domingo, 30 de dezembro de 2012

Tradições

Parece quase obrigatório falar de tradições (culinárias ou de outra ordem qualquer) nesta época do ano. Queria fugir disso mas...

Na minha família e, suponho, na de muitos, acaba-se por repetir nas festas de natal e de fim de ano alguns rituais ou, pelo menos, algumas receitas. Numa casa marcadamente portuguesa, o bacalhau e as rabanadas sempre estiveram presentes à mesa do natal. Quando era criança e os festejos se faziam na casa de meus avós paternos, penso que o prato era preparado por minha avó, cozido com batatas ou ao forno - não tenho certeza. Minha avó, pequenina e decidida, gostava de mandar e minha mãe,  para evitar atritos com a sogra,  geralmente seguia suas "orientações". Mas o tempo foi passando e a mãe (que também era portuguesa) acabou por introduzir sua inovação no ritual. O calor do natal brasileiro sugeria e justificava pratos frios, então ela começou a levar para a ceia uma salada de bacalhau. A versão agradou e passou a se constituir numa nova tradição que permanece (pelo menos por enquanto). E, nos últimos anos, sou eu que tenho me incumbido de preservá-la. 

Foi em Torres, na casa de amigos, que passamos a data há poucos dias atrás. Como os supermercados de praia costumam ser precários (e caros), levei da cidade uma boa peça de bacalhau salgado. Não haveria muito tempo para dessalgá-lo pois estávamos viajando na véspera da festa, então tive o cuidado de trocar várias vezes a água da vasilha conservada no refrigerador (cheguei até mesmo a me levantar no meio da noite para fazer isso!). A praia ótima, o sol, o mar, o calor e a caipirinha fizeram com que eu me ocupasse do "assunto" somente depois do almoço. Era dia 24 de dezembro e a festa começaria em poucas horas. 



Iniciei o preparo cozinhando o bacalhau com bastante água, ao mesmo tempo em que, com a ajuda de minha irmã, descascava e cortava em rodelas as batatas. Depois de uns quinze ou vinte minutos de cozimento considerei que a peça (que tinha em torno de 850 gramas) estava pronta e retirei da panela. Aproveitei a água para cozinhar as batatas que, assim, iriam ganhar um tanto mais do sabor do peixe. Cuidei para que as batatas ficassem no ponto, isto é, bem firmes. Imediatamente escorri-as da água, esperei só um pouquinho e já coloquei um pouco de azeite para temperá-las. Agora tinha de achar um lugar arejado para ver se conseguia resfriá-las rapidamente. (O calor era intensíssimo!)

Desmanchei o bacalhau em lascas, cozinhei alguns ovos e depois cortei-os em fatias, cortei também algumas cebolas roxas em fatias fininhas. Juntei todos esses ingredientes mais azeitonas e azeite, é claro! A salada estava pronta. Em seguida foi para o refrigerador, aguardando o horário da festa.

Como costuma acontecer nessas reuniões em que cada grupo familiar leva alguma comida, a mesa (farta) mostrava-se um tanto heterodoxa: havia peru, farofa e frutas (como poderiam faltar num natal brasileiro?), salpicão de frango, arroz à grega, etc. etc. Com muita alegria todos se lançaram aos pratos. Provando um pouquinho daqui, um pouquinho dali, promoveram-se combinações inusitadas e, ao final, distribuiram-se elogios a todos os responsáveis.

No dia seguinte...

evidentemente havia muitas sobras - absolutamente aproveitáveis e saborosas. Não se podia desperdiçar o que havia sido feito com tanto carinho e cuidado. O almoço constituiu-se, então, na transformação ou renovação dos pratos. E aqui, na minha opinião, fica revelada outra qualidade da salada de bacalhau: colocada numa travessa refratária e levada ao forno (mais um tantinho de azeite para dar brilho e salsinha picada para dar graça) vira um prato "novo": bacalhau no forno. Fácil de fazer, fácil de transportar, fácil de transformar.


sábado, 22 de dezembro de 2012

Voltando às cocottes

Sei que já andei escrevendo aqui sobre a "onda" das cocottes (post de agosto), mas elas me parecem tão graciosas e práticas que resolvi comentar um  pouco mais. 

Quando as cocottes entram em cena a mesa ganha um ar minimalista. Não há travessas, molheiras, talheres de servir, etc.  Diante de cada pessoa somente sua pequena caçarola colorida, tampada, guardando um segredo ou uma surpresa. Para alguns, pode parecer um pouco estranho, talvez o contraponto de uma refeição farta ou generosa. Mas é apenas uma impressão: a cocotte pode encerrar em si mesma uma refeição rica e completa. É possível preparar de tudo: entradas, sopas, ensopados, pratos 'fortes' com peixes, carnes, legumes, ovos e até sobremesas. Enfim, não há limites para a imaginação. 

O visual é charmoso e, para quem mora sozinho, um recurso incrível. As panelinhas vão do forno diretamente à mesa e conservam o calor e o sabor dos alimentos por muito tempo. Com uma dose de imaginação dá para criar refeições perfeitas com poucos ingredientes,evitando sobras na geladeira (ou, quem sabe, delas tirando proveito). 

 A princípio, as cocottes devem ser levadas ao forno tampadas para garantir a formação do vapor interno o que permitirá que o alimento não resseque. Mas também se pode, em algum momento, destampa-las para formar uma crosta de queijo gratinado, por exemplo. 

Aqui temos cocottes que combinam uma primeira camada de polenta, a seguir cogumelos (chileno e porcini secos, previamente hidratados), uma nova camada de polenta e, finalmente, ovo. Foram levadas ao forno sem tampa pois estavam 'generosas' demais!



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Na vida e na cozinha


"Uma coisa importante na vida e, também na cozinha, é perguntar porque as maneiras de fazer as coisas são assim e não de outro jeito. Isso é a raiz de qualquer descoberta culinária". 
Quem fala assim é Giulio, um dos personagens de Aqueles cães malditos de Arquelau,  de Isaias Pessotti.  O livro de Pessotti não é, contudo, um livro de gastronomia. Longe disso.  É um romance que gira em torno de um grupo de jovens pesquisadores de um centro acadêmico de Milão, no final dos anos de 1960. Dedicados e intensos na busca do conhecimento, esses jovens se embrenham no passado de uma villa da região e acabam descobrindo um inédito manuscrito do século XV. Recolhendo vestígios e juntando peças, terminam por reconstruir histórias proscritas.

O livro mistura mistério, paixões, debates acalorados em torno do saber. Em meio a tudo isso, a curiosidade, o prazer e o diálogo também se fazem, algumas vezes, em torno da comida e da bebida. Saboreando salames e massas, bebendo um pinot grigio ou provando, numa velha trattoria, uma receita especialíssima de faisão preparada pela mulher de Giulio, eles se veem envolvidos em discussões sobre originalidade ou genialidade. O comentário de Giulio, ainda que a propósito de uma receita, pode ser (quem sabe?) tomado como uma tese por seus ouvintes. Espantado com a solenidade da própria frase, Giulio continua
"Quero dizer", atenuou sem muito jeito, "que não se deve empregar um certo tempero ou um modo de cozer só porque se aprendeu assim. Um tempero ou combinação de temperos é usado porque produz certos efeitos bem precisos. Mas o mesmo efeito pode resultar de outros condimentos e isso pode trazer vantagens que o modo tradicional não permitia".
"Giulio, espera um pouco", falou Lorenzo, "um tempero é uma erva, louro, por exemplo. E o efeito dela é, digamos, um certo perfume..."
"Não. Talvez sim, explico", continuou nosso oste, "um tempero é um sabor ou aroma que pode ser dado por uma erva ou um conhaque, por exemplo; mas muitas vezes ele é o resultado de combinações delicadas de diferentes ervas ou outros ingredientes..." 
A conversa continuou adiante:
"Se eu dou as mesmas ervas a Sofia e a Lisa, cada uma fará um tempero diferente, tutto suo. De outro lado, um mesmo tempero pode resultar até de diferentes ingredientes ou misturas deles.
Lorenzo definiu as coisas: "Então temos ingredientes e temperos. Os temperos são produtos dos ingredientes e um mesmo produto pode resultar de diferentes misturas de ingredientes". 
"Bravo professore! Lisa é capaz de produzir o sabor que ela quiser com as mais diversas combinações de ervas, licores, vinhos e especiarias. Foi assim que ela produziu sua receita genial". 


domingo, 9 de dezembro de 2012

Pelos arredores

Não é preciso andar muito para encontrar, nos arredores de minha casa, uma série de restaurantes, bistrôs e bares. Há um ou dois tradicionais, reconhecidos na cidade desde o tempo de meus avós, outros recentes; alguns focados ou especializados em comidas regionais: portuguesa, alemã, italiana e até havaiana; muitos servem almoços na base do bufê, outros ensaiam propostas mais descoladas na tentativa de construir a sua marca.

Há poucos dias experimentei um desses, o pequenino e curioso Chicafundó que fica nos fundos da Refúgio Urbano, uma lojinha interessante. Numa antiga garagem, decorada com originalidade e graça, acomodam-se 27 pessoas (considerando nesse conjunto uma ou duas mesas que são colocadas no ambiente da loja. Não cheguei a espiar para lá mas, pelas risadas, imaginei que ali estava um grupo comemorando aniversário ou festinha de fim de ano). Fui numa sexta-feira à noite para o que chamam de "jantar easygoing" , o qual consiste numa salada, um prato principal e uma sobremesa, planejados pelo chef e disponibilizados no site do restaurante antecipadamente. Não há possibilidade de pedir outra coisa pois, efetivamente, o lugar é pequeno e não oferece muita chance de estocar ingredientes para improvisos (o que se pode constatar pela visão da cozinha onde tres pessoas preparam os pratos). O Chicafundó trabalha sempre com reservas, justamente para garantir que tudo saia nos "conformes". Se, eventualmente, alguém tem alguma restrição alimentar (se é vegetariano, por exemplo) é só avisar no momento da reserva que eles providenciam uma alternativa para aquela pessoa. Esse jantar, mais água sem gás, café expresso e chá sai por R$ 50,00, preço que me pareceu perfeitamente adequado, dado a qualidade da comida e o atendimento personalizado. Naquela noite, a entrada foi um mil folhas de vegetais com camarões grelhados (que se pode apreciar na foto), mais filet mignon com nhoque (que estava admirável) e arrematado por um duo de sobremesas: mousse de chocolate com coulis de frutas vermelhas e pudim de doce de leite.


Poucos dias depois, num sábado ensolarado, fui atraída pelas mesas na calçada de outro pequeno restaurante da redondeza. Já conhecia o Pâtissier por seus quiches e patês que tinha encomendado algumas vezes para servir em casa, mas nunca havia experimentado almoçar no próprio restaurante. Numa rua bem arborizada, amplos ombrelones ajudam a criar uma sombra sobre as mesinhas, o que torna o lugar muito atraente.

O cardápio estava escrito a pincel num prato de sobremesa e, naquele dia, consistia de uma "saladinha de folhas com bacon, crouton e quadradinhos de mozzarela de búfala", seguido de um hamburguer de carne e linguiça preparado no carvão acompanhado de pequenas batatas assadas e, para finalizar, creme brûlé. Um pequeno couvert de torradinhas e uma finíssima fatia de mortadela antecedia a refeição. O preço foi de R$ 69,00. O cálice de vinho chardonnay chileno que pedi acrescentou R$ 18,00 e, com o serviço, a conta ficou em R$ 95,00, o que me pareceu caro.


Enfim, dois pequenos restaurantes que trabalham, ambos, com cardápios pré-definidos e que "entregam o que prometem". Mas seja por uma questão de estilo ou gosto, seja pelo que for, minha preferência vai, sem dúvida, para o Chicafundó. Menos pretensão no atendimento, a acolhida da responsável pela cozinha, o preço justo, tudo isso me fez desejar voltar lá outras vezes. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Pescados na parrilla

Nos cafés das esquinas tudo parece igual. Os velhos portenhos continuam lendo o jornal do dia diante de sua xícara de café quente e forte mais leite ou creme e um prato de media lunas ao lado. Sob muitos aspectos Buenos Aires continua a mesma. O ar europeu marcado pela arquitetura pesada e nobre dos edifícios ainda está lá, é claro; também se reconhece a altivez dos homens e das mulheres e o tango continua sendo dançado na praça da Recoleta e nas ruas de San Telmo para encantar os turistas. A peregrinação diante do túmulo de Evita permanece inalterada e se renova a cada dia. 

Buenos Aires sempre foi e continua sendo atraente para nós, brasileiros, especialmente para os daqui do sul. A proximidade geográfica e cultural facilita o trânsito. São muitas as referências que nos unem, uma porção de hábitos e expressões partilhadas, um parentesco nos trajes, na música, na gastronomia. Afinal somos todos gaúchos (ou gáuchos, como por lá se pronuncia).

É verdade que a cidade já conheceu dias melhores, mas continua charmosa. E, entre seus pontos de atração, costuma-se apontar os bons restaurantes, onde a carne usa ser a grande pedida (sem esquecer o bom vinho, por supuesto). A tradicional parrillada, quer dizer, o churrasco feito numa grelha (a parrilla) sobre brasas é um must argentino. Sem dúvida a qualidade da carne e a forma de preparo são especiais. Mas nem só de carne vivem os argentinos: massas, lasanhas e pizzas estão por todo lado,  e também empanadas e cozidos, peixes e frutos do mar.

E foi numa dessas visitas a Buenos Aires que acabamos provando pescados à parrilla. Foi num restaurante espanhol chamado Jose Luiz, no bairro da Recoleta. Um lugar acolhedor, um pouco afastado da zona mais fortemente turística. A ideia inicial era provar a paella, mas pareceu interessante experimentar os pescados na parrilla. O prato chegou generoso, combinando cinco peixes: corvina, salmão rosado, salmão branco (que eu não conhecia), badejo e ainda mero ou merluza (não tenho certeza do nome do peixe), mais camarões gigantes (langostins) e ostras. Para acompanhar o garçon sugeriu batatas cozidas sobre as quais ele espalhou, já à mesa, um tanto de páprica picante e páprica dulce. Acompanhamos com um vinho Tapiz malbec. Pareceu dificil, impossível mesmo, dar conta de tudo.


A propósito: vim a descobrir agora, pelo Google, que esse é considerado um dos bons restaurantes de pescado da cidade (está entre os oito melhores). E, devo acrescentar, seus preços são bem razoáveis. Vale experimentar.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Em família

Domingo, feriado, visita de quem mora fora... o motivo pouco importa. Temos um "baita" churrasqueiro na família. Qualquer pretexto é pretexto para reunir o grupo. E churrasco, segundo a tradição do Rio Grande, deve ser preparado pelos homens. Posso ter toda a conviccção do mundo contra divisões/restrições de sexo/gênero mas, nesse caso específico, por puro comodismo (e reconhecimento das indiscutíveis qualidades do cozinheiro em questão) me rendo. Nada faço senão ajudar no arranjo da mesa, às vezes no preparo das saladas e, eventualmente, das sobremesas.

Pra começo de conversa, ou melhor, como entrada, vêm os "belisquetes": a coxinha da asa e o coraçãozinho de galinha que as crianças adoram mas eu não como, a linguicinha já cortada, oferecida na tábua com um bocado de farinha. Todos (ou quase todos) ainda estão em pé, circulando entre a mesa e a churrasqueira, bebericando uma caipirinha (menos frequente do que seria desejável), ou já partindo para a cerveja, o vinho e os refrigerantes. As mães dos pequenos empenham-se em faze-los sentar e dedicam-se a servi-los com atenção (às vezes reforçam seus pratos com feijão e arroz).

As saladas são colocadas na mesa e o churrasqueiro adverte: "já podem ir sentando, está ficando pronto" e, para quem gosta de mal passado (outra de nossas tradições) não dá para ficar se "amarrando". Muitos se jogam no pão temperado que sai quentinho do espeto. Saladas verdes, de tomates e de batatas são repartidas. Costuma ser essa a regra, mas não foi assim no nosso último encontro. Estreou-se uma salada nova, feita de lãminas de abobrinhas cruas mais mozzarela de búfala e temperada com limão e manjericão. Super saudável, uma delícia!

 Para quem "precisava" de um reforço de carboidrato, foram colocadas na grelha batatas (pré-cozidas) para as quais se providenciou um generoso molho de gorgonzola.

Bem, então, chega o grande momento das carnes: usualmente vazio (fraldinha), picanha, às vezes lombinho, mas neste dia paleta de cordeiro e maminha de angus.

Tudo é consumido com muito prazer, grande dose de alvoroço, um toque de bagunça e, é claro, recheado de elogios ao churrasqueiro (indispensável para que o ritual se repita)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Quando o cenário é (quase) tudo

Não são poucos os restaurantes (e bares e hotéis, etc. etc.) que apostam no cenário, ou melhor, que  se valem do cenário para oferecer um serviço que não é lá essas coisas. O encanto da paisagem ou mesmo a beleza da decoração consegue, às vezes, nos distrair e nos levar a perdoar se a refeição (ou a hospedagem) não tem a qualidade desejada.
Quando nos deparamos com um cenário inusitado como o de Veneza, tudo parece, então, ficar em segundo plano.




Essa cidade é diferente, sem dúvida. A onipresença da água, a ausência dos automóveis, as inúmeras pontes e vielas, tudo cria um clima distinto, incomparável a qualquer outro lugar. Por lá, comi em vários lugares. Nem todos bons, com certeza. E quase todos caros. Veneza é uma cidade que vive do turismo acima de tudo e explora isso de todas as formas.

Num dia de greve, com os transportes públicos todos parados, os gondoleiros, mais do que nunca, garantiram sua "féria". Remavam de um lado para outro o tempo todo, sempre ocupados. O terraço de um  belo hotel foi o cenário escolhido para nosso almoço.


Devo confessar que estava mais preocupada em descansar os pés de tanto andar e disposta a perder o olhar na paisagem do que propriamente atenta ao que pedir. Mas a escolha foi boa: uma grande salada com um pouco de vinho. Não comprometeu o cenário, esse sim magnífico!



sábado, 10 de novembro de 2012

A tranquilidade da serra

Pode ser um belo programa subir a serra. Para quem mora em Porto Alegre o acesso é fácil, dá até para escolher o caminho: a estrada antiga, chamada de "rota romântica", cheia de curvas e plátanos ou a que passa por Taquara, com duas pistas largas, mais segura ainda que menos bonita. Prefiro a antiga que é marcada por pequenas cidades, pontilhada de picadas e "paradouros", onde se costuma ter vistas amplas, dá para tomar um café ou comprar biscoitos, erva-mate e bugigangas. Por essa via, no último fim de semana, descobrimos mais um caminho, um desvio da estrada principal que pretende se constituir como um "caminho das artes", ao longo do qual artesãos, artistas plásticos e pintores vêm se instalando.

Enfim, seja qual for o trajeto escolhido, a subida da serra representa uma escapada da cidade grande. Ali se experimenta, supostamente, um ritmo menos agitado, tudo é menos barulhento, mais tranquilo. Doce ilusão! Tendo se firmado como um dos mais importantes polos turísticos do Rio Grande do Sul, a região das hortênsias (Gramado e Canela à frente) está a mil nesses tempos que antecedem o fim do ano. Os turistas são despejados em bandos por imensos ônibus que chegam de toda parte do país, as lojas e restaurantes exultam com os consumidores ávidos. Papais (e mamães) Noel, árvores, guirlandas e bolinhas coloridas estão por todo lado. Um cheiro de chocolate se espalha pelo ar. Fica quase difícil perceber as flores (embora elas estejam exuberantes) e o verde dos pinheiros naturais pois tudo parece "afogado" pelos enfeites natalinos.

É claro que, num cenário como esse, os restaurantes são disputadíssimos. Muito melhor será, então, o almoço feito em casa, preparado com graça e cuidado.

Nossa escolha foi salmão com molho de amêndoas e maracujá, acompanhado de ervilhas tortas e cogumelos. Beeem mais saudável do que as setenta e tantas ofertas dos "cafés coloniais" que costumam atrair os afoitos!

Uma receita sem mistérios: enquanto o salmão ia para o forno, já temperado com sal e pimenta, as amêndoas em lâminas eram tostadas numa grande frigideira (com um nadinha de azeite e todo o cuidado para que não queimassem). Em seguida, a polpa de maracujá congelada foi colocada na panela para aquecer, acrescentando um pouco de pimenta. Para que o molho tivesse boa consistência foi necessário juntar um pouquinho de maisena. Os cogumelos portobelo bem grandes foram fatiados e salteados no azeite bem como a ervilha torta. Tudo muito rapidamente para garantir que a ervilha ficasse crocante.  E estava pronta a refeição. Que tranquilidade!



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um jantar poderoso

Para muita gente, o 5e arrondissement representa o coração de Paris. Uma das regiões mais antigas da cidade, abrange a maior parte do quartier latin, o bairro intelectual e boêmio. Ali se encontram o Collège de France e a Sorbonne, escolas superiores e liceus, divisões da Universidade de Paris, livrarias, bibliotecas e também uma quantidade incrível de bistrôs, restaurantes, bares, cinemas e teatros. É sempre delicioso passear por suas ruas, descobrindo ou redescobrindo espaços de arte, lazer, cultura, gastronomia.

Foi ali que decidimos fazer nosso jantar de despedida da viagem. Não lembro o nome do lugar (o que é uma pena), mas lembro que ficava próximo à rua de l'Estrapade. Era um bistrô muito pequeno e gracioso com poucas mesas. O cardápio estava exposto em três quadros-negros.




Chegamos cedo e por isso conseguimos um lugar (aparentemente todas as outras mesas estavam reservadas e foram logo ocupadas). O restaurateur veio nos receber com seu cachorro que (vale notar) circulou junto com seu dono pelo pequeno salão durante todo o jantar. Simpático, o dono trouxe até nossa mesa um a um dos quadros negros onde se podia escolher um prato de entrada, um prato principal e uma sobremesa.  Apesar de descrever com entusiasmo todas as opções, preferimos deixar que ele nos aconselhasse e, assim, seguimos suas preferências e sugestões.

Nossa entrada constituiu-se de um "foie-gras mariné à la mûre et au jurançon". Fiquei encantada. Provavelmente era a primeira vez que eu provava um autêntico "foie-gras". Apresentado de modo simples, sobre uma espécie de "tábua" ou lâmina de ferro, a fatia de foie vinha acompanhada por uma pequena salada e um pão rústico torrado.

A seguir, o prato principal foi anunciado com muita circunstância pelo dono: "aoxa d'espelette". Eu não tinha ideia do que se tratava. Orientada por ele, fiquei sabendo que essa é uma receita basca tradicional que sua família costumava fazer com frequência. Trata-se de um prato muito forte, de carne (vitela) ensopada com batatas, bem apimentado. Como diria minha mãe: "um prato de levantar mortos!"

A esssa altura estávamos, minha amiga e eu, plenamente satisfeitas. Mas havia a sobremesa e, da atraente lista que nos foi apresentada, mais uma vez seguimos a sugestão do restaurateur e optamos pela "assiette de figues rôties".
Um jantar poderoso com certeza!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Na região do Chianti

Através do cinema, da pintura e da literatura, fui construindo uma imagem do que seria a Toscana. Sonhava em percorrer aquela região, plena de videiras e oliveiras que, acreditava, sugeria calma e tranquilidade. De algum modo consegui espiar um pouquinho disso. Depois de alguns dias aproveitando dos encantos de Florença, partimos numa excursão de ônibus em direção à região do Chianti. 



Agora sim, o verde enchia nossos olhos, os vinhedos eram constantes. Paramos, inicialmente, na pequena e graciosa San Gimignano; seguimos para Siena que, tenho de confessar, me pareceu soterrada pelos turistas (como nós). Pouco deu para apreciar suas ruas, a catedral, a fonte, a enorme praça. Em tudo e por tudo muita gente (e muito calor!). Consegui recuperar um pouco da paisagem sonhada quando retornamos ao ônibus e prosseguimos até Monteriggioni para, depois, aportar numa pequena "azienda agricola", a Poggio Amorelli, onde teríamos a esperada degustação de vinhos, queijos e outras iguarias da terra.




Não me decepcionei. Fomos recebidos pelo casal proprietário da vinícola que, depois das usuais explanações sobre a produção da uva e dos vinhos, acomodou-nos numa sala e passou a nos apresentar alguns de seus produtos. Seja pela forma como o homem conduzia a apreciação dos vinhos (e também do queijo pecorino, dos azeites e do salame toscano) seja pelo efeito dos vários cálices e da proximidade provocada pelas grandes mesas, o fato é que alguma coisa mudava naquela gente que, até então, parecia estar "cada um na sua".  
Agora todo mundo conversava e trocava opiniões. Misturavam-se várias línguas (italiano, espanhol, português, inglês...). De repente formava-se um grupo e algumas curiosidades e informações se repartiam. 


Dos vinhos que provamos, apreciei especialmente um "morellino di scansano" DOCG (Poggio Barbone). DOCG, ou seja, Denominazione di Origine Controlata e Garantita implica num selo que garante a mais alta classificação para os vinhos italianos. Efetivamente estou longe de ser uma conhecedora de vinhos, mas achei muito saboroso. Tivemos chance de provar também um Chianti Classico DOCG Reserve (da própria Poggio Amorelli) que, segundo nos informou o proprietário, havia alcançado 98 pontos na avaliação da revista Wine Spectator.
Animados pelo vinho e pela conversa, muitos compraram produtos ou se espalharam pelos vinhedos, como eu. Um lindo passeio.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Por aqui, preparando o verão

A mesa florida parecia anunciar o verão neste domingo. Estávamos mudando o horário, com uma hora de sono a menos, o dia prometia ser quente. Tudo sugeria que o almoço deveria ser leve: uma salada apenas, acompanhada de uma espécie de pão crocante que, afinal,  consistia numa lâmina de massa folhada levada ao forno.

A salada muito colorida não se revelava simplesmente ao olhar. Em vez disso, sugeria o desafio de adivinhar seus ingredientes. A cada mordida uma descoberta: tomatinhos cerejas (sim, isso era fácil,  mas eles se apresentavam um tanto "dferentes" pois haviam sido levemente tocados pelo vapor), passas de figo, tâmaras, tirinhas de haddock defumado, cebolinhas italianas em conserva (bem suaves, nada avinagradas), cogumelos...
Por aqui também tem muita coisa boa, não é preciso viajar tanto!!



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fruteiras e mercadinhos

Andar à toa pelas ruas, espiando um pouco das coisas e das pessoas do lugar é uma das delícias de uma viagem. Com a pretensão de ser mais uma delas, tentamos assumir um tom casual, tentamos nos misturar. Obviamente tudo não passa de um faz-de-conta. Somos estrangeiras, inevitavelmente. Nem é preciso abrir a boca. Nossos gestos nos traem. Não sabemos dos modos, costumes e jeitos daquele canto do mundo. Pior do que isso, somos turistas, espécie que, embora aceita ou, quem sabe, até desejada, costuma ser, muitas vezes,  um  tanto predadora. Turistas usam consumir depressa, têm olhar indiscreto, querem ouvir, saber, sorver, em pouco tempo, o máximo possível.

Mas às vezes conseguimos deixar de lado a voracidade e nos contentamos em provar um tantinho só da vida local. Na fruteira de uma esquina qualquer, numa venda modesta, longe dos endereços famosos, podemos ter um relance do cotidiano. Imitamos a gente comum e compramos uma fruta para sair comendo pela rua. Talvez isso seja tudo o que podemos fazer, ainda que a vontade fosse carregar um cesto com legumes e verduras que parecem incrivelmente frescos e preparar em casa uma refeição inteira, de verdade.

Em Florença, San Gimignano ou Veneza, nos encantamos com a doçura das frutas e com o frescor dos produtos. E o que dizer da variedade de arroz que se oferecia?



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

De volta

Sempre amei viajar mas, à medida em que os anos e as experiências foram aumentando, tenho experimentado também o prazer de voltar. Acho bom reencontrar o "meu canto", as pessoas queridas, as coisas, os cheiros e gostos conhecidos.
Os dias vividos longe costumam ser intensos. O tempo parece passar diferente. São dias plenos de informação, de sabores, sentidos, desafios. As anotações de um diário nem de longe dão conta de tudo o que se vê e se faz. Não só pela incapacidade de registrar o colorido de tantas sensações como também por uma razão muito prosaica e concreta: o cansaço. Pernas e braços exigidos para além da conta, olhos e ouvidos encharcados de sons estrangeiros pedem descanso na cama do hotel. Sobra pouca energia e sagacidade para os relatos. Ainda bem que a tecnologia do Iphone dá uma ajuda. Por meio do discreto dispositivo, consigo registrar imagens que agora funcionam como gatilho para a memória.

Estou retornando de uma viagem em que o norte da Italía foi o foco e, como seria de esperar, as experiências de comida e bebida foram muitas e especialmente saborosas. Abandono qualquer pretensão de organização nos meus relatos. O máximo que posso fazer é trazer alguns recortes mais ou menos impressionistas desse passeio.

A Toscana possui uma gastronomia famosa e apreciada, usualmente descrita como simples e de grande qualidade. Acho que foi isso que me encantou ao provar (e repetir várias vezes) um antepasto aparentemente comum: um prato com finíssimas fatias de salames, presuntos e pedaços de macia mozzarella. Imediatamente pensei o quanto esses frios eram incomparáveis com os que costumo consumir por aqui. Por certo a forma como são curadas as carnes, os ingredientes e temperos são especiais e típicos da região, mas é preciso notar também que é apenas no momento de servir, quando já estamos sentados à mesa, que as finas lâminas são cortadas. O sabor e o frescor são visíveis. A mozzarella super cremosa parece, muitas vezes, quase uma burrata e, ao ser cortada, se esparrama pelo prato. O pão artesanal completa a maravilha. Tudo absolutamente delicioso!


domingo, 16 de setembro de 2012

Um jantar à beira do rio

A caminho da zona sul se vislulmbra o Guaíba. O brilho d'água traz encanto e graça à paisagem. Pouco importa se o que se vê é um rio, um lago ou um estuário. Como tantos portoalegrenses, uso a denominação aprendida e repetida com orgulho e afeto: Guaiba é o rio que banha Porto Alegre e ponto. Curioso é que, apesar de reconhecer sua beleza e, com algum exagero, apregoar que dali se contempla o mais lindo por-de-sol do mundo (gaúcho nunca faz por menos os elogios à sua terra), vivemos quase todo o tempo de "costas para o rio". Mais um lugar comum: reconhecemos que a cidade está divorciada do rio e que o muro, construído há alguns anos para conter eventuais enchentes, é apenas a expressão mais violenta desse divórcio mas, mesmo assim, a demora do olhar sobre o Guaíba é pouca, quase sempre. Espiamos o rio de relance, pela janela do carro, ou talvez andando de bicicleta no parque Marinha ou quando vamos em direção ao estádio do Inter.

Por tudo isso, o convite para jantar num belo restaurante debruçado para o Guaíba é especial. O Le Monde Villa Lina chegou a Porto Alegre não faz muito tempo. É verdade que, por ali, outros já tentaram a empreitada gastronômica, mas a arrogância e rudeza do atendimento levou o prazer água abaixo. No Le Monde Villa Lina a história é outra. O restaurante instalou-se num casarão do século passado e soube transformá-lo sem descaracterizar o que deve ter sido uma 'villa', uma "casa para fora". Digo isso porque imagino que, em 1911, aquela região (Pedra Redonda, Tristeza, Ipanema) certamente ficava além dos limites da cidade.

Na noite em que visitei o Villa Lina chovia e ventava muito, por isso não tive chance de apreciar o jardim que, de qualquer modo, me pareceu espaçoso e bem cuidado. Mas conseguimos uma mesa junto aos janelões e, então, ao mesmo tempo em que examinava o generoso cardápio e a carta de vinhos, joguei o olhar para o rio que chegava a formar pequenas ondas na areia por causa do vento. Gostei muito do lugar e do modo como fui tratada. O restaurante tem seu requinte, o espaço é bonito, a cozinha é competente, o serviço, atento, mas não se percebe qualquer preocupação em "aparentar" requinte. Tudo flui com naturalidade. Garçons e chefe atenciosos e "leves". Isso! Leveza! Taí uma coisa que valorizo.

Escolhi um prato tailandês: "pad thai de camarões Le Monde", acompanhado de um vinho português. Delicioso, talvez um tanto "grande' demais para meu apetite, mas correto.

Quero voltar mais vezes. Imagino que seja adorável comer ali numa noite de verão.




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sabores antecipados

Já encontrei gente que compreende a comida, ou melhor, as refeições como algo que é necessário para manter o corpo em pé, para manter-se vivo. Isso e somente isso. Não posso esquecer o jantar que preparei para receber a amiga de uma amiga. Eu pretendia agradecer-lhe a hospedagem que generosamente me dera numa viagem e, para isso, procurei caprichar nos pratos, na apresentação, etc. Não tenho mais ideia do que preparei, pois isso aconteceu há muito tempo, mas não esqueço que essa pessoa me disse que para ela não importava, absolutamente, o que iria comer, bastava que sustentasse seu corpo (magro, diga-se de passagem). Aparentemente ela não tirava da mesa qualquer prazer especial. Meu jantar-agradecimento, portanto, pareceu-me destituído de valor. Uma grande decepção.

Felizmente conheço poucas pessoas que pensam assim. Deve haver por aí, mas não estão na minha  roda de amigos e de referência. Bem ao contrário disso, conheço um monte de gente que, tal como eu, antecipa gostos e sonha com sabores, odores e situações ligadas à boa mesa. Gente que, à simples menção de um prato ou de um ingrediente, é capaz de pressentir seu gosto. Essa antecipação dos prazeres pode ser deliciosa e também, evidentemente, tem seus riscos.

Ao preparar-me para uma viagem, como estou fazendo agora, recolho dicas e sugestões de amigos que já andaram por onde vou andar. Além das indicações de hoteis, pontos turísticos que valem a pena, museus, espaços de arte, lojinhas interessantes, surgem sempre boas sugestões de restaurantes, mercados, lugares para provar e comprar produtos típicos, um vinho especial, uma receita imperdível. Adoro essa fase preparatória de uma viagem! Lembro que meu pai e meu avó, outros dois viajantes inveterados da família, diziam que essa antecipação costuma ser tão gostosa quanto a viagem propriamente dita (quem sabe algumas vezes até melhor que a viagem, pois não implica em pés cansados, calor e filas, esperas ou frio congelante).

Nesses tempos de internet, essa fase preparatória ganhou, contudo, algumas características tão "realistas" que, por vezes, tenho medo que estrague o sonho. Percebi isso há poucos meses atrás, antes de viajar para Nova York. Como já conhecia bem a cidade e tinha meus lugares preferidos de  lojas gourmet, por exemplo, entrei no site dessas lojas e fui espiar o que ofereciam. Evidentemente fiquei muito bem informada sobre produtos e preços, mas confesso que isso "matou"  um tanto a graça de circular por entre estandes e prateleiras, ver e pegar os frascos, latas e caixinhas e me surpreender com eles. Hoje, praticamente podemos "andar" pelas ruas usando o bonequinho do google maps e, se isso aguça o desejo de conhecer de perto os bairros, pontes e praças, por outro lado desvenda, pelo menos em parte, seus segredos. Pensei em tudo isso quando, há pouquinho, "entrei" num restaurante recomendado por vários amigos em Florença e tive até a chance de abrir o cardápio (reduto final onde se anunciam e abrigam os sabores daquele lugar específico). Fechei o site. Não vou antecipar mais nada. Quero guardar para daqui a alguns dias o prazer do imprevisto, a graça da descoberta.

domingo, 26 de agosto de 2012

Na onda das cocottes

De uns tempos para cá, as cocottes vêm aparecendo cada vez mais. Elas não são uma completa novidade, mas certamente deixaram de ser exclusivas dos bistrôs e restaurantes chiques. Graciosas e coloridas, essas caçarolas ou panelinhas refratárias (de marcas famosas e caras, como as Le Creuset ou Staub ou de marcas nacionais) estão disponiveis nas lojas especializadas em casa/cozinha e, com muito charme, aterrisam em nossas mesas.

Junto com as panelinhas, ou melhor, fazendo parte desse processo, circulam receitas de refeições simples, saudáveis, elegantes e até mesmo sofisticadas. E surgem cursos, degustações, etc. etc.

Ainda não ensaiei minhas receitas. Mas provei uma combinação deliciosa na casa de um amigo há poucos dias. Apreciei o preparo rápido e singelo de "ovos na cocotte".

No fundo da panelinha, meu amigo colocou uma camada de queijo tipo quark. Sobre ela, partiu dois ovos (com muito cuidado para que a gema ficasse intacta). Temperou com sal, pimenta e ervas. Tampada a cocotte, colocou no forno por quinze minutos, mais ou menos. (O forno já estava pré-aquecido). Para acompanhar, pão, muffins de nozes e vinho tinto.


Como tenho fama de gulosa (injusta fama, talvez!), pensei que a refeição não sustentaria o almoço. Mas realmente estava enganada. Embora delicado, o prato é, ao mesmo tempo, forte o suficiente para aquecer o corpo e a alma por um  bom tempo.

Uma outra versão desse mesmo prato pode ser feita -- e também já tive chance de experimentar -- substituindo o queijo quark por brie. Fica talvez um pouco mais forte mas é igualmente deliciosa!!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Festas de saladas

Já fiz algumas "festas de saladas" em minha casa. Acho um jeito prático de receber, especialmente no verão. Costuma agradar quase todo mundo, sugere informalidade, deixa à vontade anfitriã e convidados. Mas para sustentar um encontro desse tipo é preciso ter várias opções de saladas e caprichar na apresentação, na variedade e combinação de ingredientes, nas cores. Nada a ver com as oito, nove, dez saladas anunciadas por alguns bufês que consistem em uma travessa de tomates fatiados, uma travessa de beterraba ralada, outra de cenoura ralada, outra de couve (também ralada, é claro!), outra de alface com o "espantoso" adicional do queijo ralado (supostamente uma salada Ceasar), e por aí vai...Enfim, a maquininha de ralar legumes funcionando a mil e a imaginação a zero!!

Há algumas saladas clássicas que vale a pena ensaiar. Mas minha pretensão aqui é mais modesta. Pensei em compartilhar uma listinha  que fiz, há alguns anos atrás, para me ajudar na hora de inventar ou montar esses pratos. Nada de muito original ou extraordinário, mas lembro que a tal listinha acabou circulando entre alguns amigos interessados.

Ingredientes para possíveis combinações
folhas (alface, rúcula, espinafre, agrião, manjericão, endívia, repolho...)
tomate, cenoura, pepino, xuxu, rabanete, beterraba
aipo, palmito, aspargo
cogumelos
couve-flor, brócolis, ervilha-torta, vagem
cebola, pimentões, abobrinha, beringela, ovos cozidos
massa, batata, arroz, grão-de-bico, feijão branco ou mulatinho...

Uma certa graça se misturar
queijos (muzzarela, branco, parmesão, brie...)
crouton (c/ ou s/ alho)
azeitonas
tomates secos
frutas secas (nozes, passas, amêndoas, castanhas, damascos...)
frios e embutidos (presunto, salmão ou peito de peru defumado, salamito...)
camarão, atum
frutas (laranja, uva, maçã, kiwi, melão...)

Nos molhos
azeite, ervinhas, pimenta
vinagre balsâmico
yogurte, mostarda, limão
curry, shoyu

Para estimular seguem algumas imagens. No mais é experimentar as combinações. Ousar, repetir o que der certo e desprezar o que não agradar ao paladar.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Meu restaurante preferido

Há vários anos atrás, numa noite fria do inverno portoalegrense, rodávamos de carro pelo Moinhos de Vento quando nos deparamos com um restaurante novo que parecia acolhedor e charmoso e que apresentava do lado de fora um quadro negro anunciando caldo verde. Parecia uma boa pedida naquele momento. Entramos e gostamos do ambiente: uma sala aconchegante, muita madeira, um certo ar "portenho"... Praticamente vazio, só uma mesa estava ocupada por dois homens. Sentamos e pedimos o caldo verde e um vinho. Chegou acompanhado de um pão artesanal. Tudo perfeito. A dona do restaurante veio conversar conosco, falamos que o lugar nos agradava e, em seguida, um dos homens da mesa integrou-se à conversa. Era o marido, também proprietário, que se mostrava contente com nossa visita e apreciação. Uma estreia nada ruidosa para um restaurante que hoje é um dos mais conhecidos e frequentados de Porto Alegre, o Le Bistrot.

Tornou-se meu restaurante preferido na cidade. Continua acolhedor, intimista (pelo menos no inverno), e cheio de gente e movimento nos almoços e nos fins de tarde, especialmente em torno das mesas que, agora cobertas por imensos ombrelones, tomaram conta da calçada. Talvez tenha se tornado, para muitos, um lugar "para ver e ser visto", mas para mim se mantém como um espaço de comida bem feita e bem apresentada, tudo garantido pelo atento olhar dos donos. O sucesso é indiscutível e fez com que eles abrissem outros dois restaurantes, também muito charmosos e agradáveis.


Adoro o buffet que é servido nos almoços de sábado e domingo. E, nas noites de domingo, quando rareiam os lugares para comer bem em Porto Alegre, o Le Bistrot se mantém aberto e acolhedor.
No último fim de semana, estive por lá com amigos. Como não queríamos jantar, pedimos umas entradas, tiras de filet e burrata, como petiscos para acompanhar um bom vinho. Estava delicioso.


sábado, 11 de agosto de 2012

A feirinha ecológica da Redenção

Acontece de tudo na Redenção. Desde há muito tempo, desde sempre. Na verdade, o "parque Farroupilha", nome oficial, é quase tão antigo quanto Porto Alegre e sua história está, é claro, muito  entrelaçada à história da cidade. Nos primeiros anos do século XIX, quando surgiu, era chamado de  Campos da Várzea do Portão, já que ficava próximo ao portão da cidade, depoiis passou a se chamar de Campos do Bom Fim e, em 1884, Campos da Redenção, em homenagem a um episódio de libertação de centenas de escravos que ocorreu precisamente ali, um pouco antes da abolição.

Quase todo mundo fala na Redenção, com afeto e no feminino, e o lugar é espaço das manifestações políticas e culturais, da parada da diversidade sexual, das caminhadas e bicicletas, das crianças e dos velhos, dos descolados, dos artistas e dos músicos, do tradicional brique, aos domingos e da feirinha ecológica, aos sábados.

Tudo isso acontece há muitos anos. Mas tenho a impressão que ganhou realce de uns tempos para cá. Seja pela crescente preocupação com a saúde e a boa forma, seja pelo prazer de escolher diretamente produtos frescos e naturais, seja pela graça de preparar refeições saudáveis e personalizadas, o fato é que a feirinha dos sábados está "bombando" cada vez mais.

Outro dia, pensando neste blog, resolvi fazer umas fotos. A pretensão tornou-se impossível de executar, tal a dificuldade que encontrei para circular entre as barraquinhas muito próximas umas das outras e a quantidade de gente que buscava, como eu, produtos sem agrotóxicos.

Tive mais sorte hoje. Provavelmente porque, lá em Londres, o Brasil tentava o ouro no futebol. Não deu o ouro, mas consegui as fotos e comprei frutas, verduras, flores, ervas e temperos. Experimentei um pouquinho de mel, espiei as ofertas de grãos e cereais, os sucos, as geléias sem açucar. Conversei com gente simpática, vendedores ligados a cooperativas que sabem para que serve tal ou qual produto, dão dicas de como fazer os preparos. Um passeio agradável, ainda mais num dia ensolarado.









E, logo adiante, quando já estava quase indo embora, surpreendi o homem que se preparava para encarnar um palhaço e vender balões para a garotada. Não pude resistir. Tinha de registrar a cena!