quinta-feira, 12 de abril de 2012

As clarinhas

Fiquei indecisa pensando se deveria ou não escrever sobre as "clarinhas", esse pastel português do qual minha mãe tanto falava. A dúvida vem do fato de que, afinal, eu não sei fazer o doce e, para dizer a verdade, apenas provei-o uma ou duas vezes quando estive em Fão. Mas enfim... aí vai minha notinha sobre as tais "clarinhas".

Minha mãe sempre enalteceu esses pastéis que algumas pessoas confundem  com os de Santa Clara. São distintos.  As clarinhas, que eu pensava ser apenas uma lembrança temperada ou valorizada  pela saudade que a mãe tinha de sua terrinha, são, efetivamente, um "patrimônio" de Fão, uma freguesia do concelho (assim mesmo com c) de Esposende, ao norte de Portugal.

A pequena localidade fica às margens do rio Cávado e ainda conserva construções do século XVI no seu centrinho. Pois bem, ali há uma pastelaria onde há muitos e muitos anos se fazem os tais pastéis. (Vale lembrar que, em Portugal, quando se fala em pastel muito frequentemente se está referindo a doces -- é só pensar nos pastéis de nata, os pastéis de Belém e os famosos pastéis de Santa Clara -- e não a salgados, embora haja, também, pastéis salgados, como o de bacalhau, por exemplo). 

Fiquei de certo modo surpresa e encantada quando, visitando Portugal, percebi que a fama das clarinhas não se explicava simplesmente pela nostalgia familiar, mas era (e é) um fato. Muita gente me contou que, em seus passeios às praias do norte, sempre dá um jeito de dar uma passadinha  em Fão para comprar os pastéis. Hoje eles são vendidos em vários pontos da vila e até fazem parte do cardápio de restaurantes da região, mas a pastelaria original de Fão ainda está lá, remodelada. Fica quase encostada à velha casa de minha avó materna e exibe na parede o registro da marca e a foto daquela que começou a produzir a delícia  por ali.
 
Não sei a receita da massa (minha mãe dizia que era um segredo muito bem guardado, pode ser que hoje já não seja mais), mas sei que o recheio é feito de chila, uma espécie de abóbora, em fios, misturada com gemas de ovos (o que não é de admirar em se tratando de doces conventuais portugueses, é claro!). O pastel tem a forma de um "rissol", como dizem os portugueses e é coberto de açúcar de confeiteiro.  Vale a pena experimentar!

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