segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Na cidade grande

Em meio à poderosa avenida Paulista, um espaço imenso se abre entre os arranha-céus; ao fundo, um restaurante com ares nova-iorquinos.  Faz tempo que não passeio por São Paulo. A cidade continua me seduzindo com sua energia. O restaurante charmoso é o Spot. Convidada para almoçar, escolho penne com melão e presunto cru, preparado com creme de leite, manteiga e suco de limão. Delicioso.


À noite, vamos jantar no restaurante Due Cuochi, no Itaim. Um lugar elegante, cardápio pleno de sugestões, vinho delicioso. Atiçada pela descrição, provo o "ravioli negro recheado de camarão e chutney de manga ao leve creme de curry". Ufa! Uma combinação interessante, um visual diferente.


Como sobremesa, petit gateau de limão siciliano com sorvete de baunilha. Divino.

A viagem gastronômica prossegue. Noutro dia, um almoço descontraído, num bistrozinho que aparece de repente e nos surpreende. Na decadente rua Augusta uma espécie de aléia reune algumas lojas ligadas à gastronomia, uma pequena livraria especializada e, ao fundo, o Bistrot de Paris. Crêpes leves, um vinho branco e é tudo. 


O cosmopolitismo paulistano faz mais sentido quando misturado ao sabor brasileiro. Dos muitos restaurantes que oferecem sabores da terra fui conhecer um com cara de interior: o Jacarandá. Numa rua de Pinheiros, uma casa antiga e despretensiosa nos fundos de um terreno. À entrada, um pequeno armazém vende produtos regionais, de Minas, do Sul, do Nordeste. Rodeando um imenso jacarandá, ou melhor, construído em torno dele, está o restaurante, charmoso e simples ao mesmo tempo. A árvore fica protegida por vidraças de tal modo que, à mesa, se pode apreciar todo seu verde. Num encontro de amigas, acabamos todas escolhendo o mesmo prato, um risoto cítrico com lulas. As conversas se alongam...
  
São Paulo tem disso tudo. Misturas de ritmos e estilos, de jeitos, linguas, sotaques, de temperos e de perfumes. Às vezes é sofisticada, em outros momentos, caipira. Gosto muito. 

domingo, 8 de dezembro de 2013

Escapando da garoa


Eu caminhava pela Oscar Freire, a famosa rua das grandes marcas e dos preços inatingíveis. Passeava os olhos pelas vitrines, aproveitando um dia livre antes do trabalho que tinha agendado para a manhã seguinte, bem cedinho. Fazia tanto tempo que eu não visitava São Paulo... 

De repente começou a tradicional garoa (talvez tradicional só nas canções porque, dizem os moradores, agora já não é tão frequente assim). Passava um pouco do meio dia, o que me permitia aproveitar a desculpa do almoço para entrar em algum lugar e escapar da chuvinha fina.

E assim, sem qualquer informação, muito menos qualquer plano, entrei no Oscar Bistrot. Um quadro negro à entrada, à altura da calçada, oferecia um almoço executivo por R$ 45, o que, para aquele endereço, me pareceu razoável. Aceitei o convite. O bistrot propriamente dito fica um tanto escondido da rua, no subsolo ou nos fundos. Senti-me imediatamente acolhida: poucas mesinhas, alguns sofas, decoração charmosa e simples. Paredes ou janelões permitem aproveitar o verde de folhagens e arbustos plantados logo ali, encostados às vidraças. 

Não lembro de música ambiente. Talvez houvesse, mas se havia não atrapalhava as conversas (levadas em tom baixo) ou o mergulho de alguns em seus notebooks e tablets. Ninguém parecia apressado. Pedi um cálice de vinho branco e aguardei os pratos.

De entrada, a garçonete me trouxe um creme aconchegante. Abobrinha, talvez, não lembro mais, Delicioso e inesperado, não constava do cardápio.




Logo em seguida, uma saladinha de massa fria com tomate cereja, mossarela de búfala, azeitona e pesto de rúcula.




Depois o prato principal: Linguado ao papillote com legumes, milho e ervilhas acompanhado de purê com aroma de trufa. 



Para finalizar, havia a possibilidade de escolha entre Tarte Tatin ou Panacota. Escolhi a tarte (esqueci de fotografar!!). Tudo delicioso, delicado, com a classe paulistana.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Cozinha Tradicional Portuguesa


Há muito eu namorava este livro. Ganhei-o há poucos dias. Podia ter comprado antes, é claro. Mas assim ele ficou ainda mais gostoso. Meu enamoramento com o livro não era ou não é, propriamente, pela possibilidade de reproduzir suas receitas. Disso eu já desisti, com certeza. Impossível replicar os ingredientes, os passos, os modos. O livro encanta por carregar um Portugal antigo, um Portugal de mesa posta. Para mim, um Portugal cheio de afetos. 

Parece que estou ouvindo a voz da Vó ou da Mãe, quando leio trechos como estes, pegados ao acaso: Põe-se ao lume uma panela com dois litros de água. Deixa-se levantar fervura e, nessa altura, introduzem-se as carnes, uma cebola às rodelas, a salsa e o serpão [...] Deita-se o arroz em 7,5 dl de água a ferver temperada com uma pitada de sal e a casca de limão [...] Deixa-se abrir um pouco o arroz [...] Serve-se bem quente, podendo envolver o alguidar numa toalha de linho e acompanha-se com laranjas cortadas às rodelas ou gomos... Um modo de falar estranho e, ao mesmo tempo, tão chegado...

O livro data de 1982 e traz 800 (isto mesmo, oitocentas!!) receitas tradicionais portuguesas. A autora, Maria de Lurdes Modesto, selecionou-as a partir de um conjunto imenso, recolhido ao longo de vinte anos, buscando fazer um levantamento do patrimônio culinário português. Na introdução, confessa que, entre seus propósitos, está colocar-se contra a insidiosa invasão de uma certa 'cozinha internacional', impessoal, soturna e monótona que já alastrou  por muitos restaurantes e ameaça entrar-nos casa dentro. A melhor barreira contra essa praga, diz ela, é a cozinha familiar. Um livro de resistência, talvez se possa dizer. Belas fotos ilustram as receitas que vêm organizadas pelas regiões do país e cada uma das regiões introduzida por um texto original de Antonio Manoel Couto Viana.

Senti-me imediatamente atraída pelo primeiro capítulo, Entre o Douro e o Minho, onde nasceu minha mãe. Ali encontrei, encantada, a receita das famosas "Clarinhas de Fão" (veja neste blog o post de 12 de abril de 2012). Complicadíssima! Compreendi, mais uma vez, porque, por tantos e tantos anos, minha mãe e meus tios falavam desses doces com saudade e uma boa dose de mistério.   

Retomei muitas outras lembranças. Entre elas, a predileção de minha mãe pelo arroz, que aparece incontáveis vezes no livro, em distintas companhias (arroz de pato, de bacalhau, de polvo, de grelos, de alhos, de lampreia, de ossos de suã), com denominações curiosas (arroz de afogado, arroz de sustância, arroz de frango malandrinho, arroz amarelo e do outro), preparado no forno ou à moda de... tantos lugares, tantas modas... Também encontrei novas pistas para entender as disputas familiares em torno do que seria uma "verdadeira açorda". Cada região prepara-as de um jeito e eu, particularmente, nunca vou esquecer as "açordas de gambas" que provei num boteco de Lisboa, há muitos anos. Enfim, entre sopas e enchidos, bacalhaus e outros peixes, moluscos, mariscos, migas, caldeiradas e doces, muitos doces, se faz o livro e se refaz, outra vez, a saudade.

O livro: Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lurdes Modesto, Verbo.

sábado, 14 de setembro de 2013

Memórias e sabores

Fiquei brincando com o título deste post: memórias de sabores, o sabor das memórias... O jogo de palavras pode se estender, sugerir nuances, mas o que o move é, sempre, a saudade.

Lembro de cheiros e gostos experimentados noutros tempos, carregados de afeto. Daí à cozinha de minha avó é só um pulo, imediato. Suas empadinhas de palmito eram famosas. Recordo do conjunto de forminhas alinhadas no forno e tenho até uma vaga ideia de ter ajudado, alguma vez, a unta-las. Eram feitas com massa podre e se  desmanchavam na primeira mordida, esfarelando-se em mil pedaços. Não me lembro de ser repreendida pela bagunça dos farelos que saltavam do prato e caíam sobre a mesa.  Penso que essas empadinhas apareciam em dias especiais, não era sempre que a Vó se dispunha a fazê-las. Talvez fosse em época de festas, páscoa, aniversários. Não sei bem. Mas não esqueço o sabor que tinham e a farra e a disputa que fazíamos ao comê-las. 

E os quindins? Ah! Eles eram magníficos! Por cima, translúcidos, de um dourado brilhante; embaixo, uma massa de coco perfeita. Tornaram-se o meu doce favorito. Costumo dizer que seria meu último pedido se fosse condenada à morte. Mas para ser efetivamente qualificado como o máximo dos máximos na escala dos doces, é indispensável que o quindim exiba no seu topo aquela transparência especialíssima que a Vó conseguia (e olhe que ela não dispunha de glucoses industrializadas!). Passei toda a vida provando quindins. Achei muitos decepcionantes, embaçados; alguns razoavelmente bons; mas nenhum, jamais, igual aos dela!

Uma espécie derivada dessa receita era o Pudim Getúlio. Era reservado como sobremesa para os grandes almoços de aniversário de meu avô e também de meu pai, que o adoravam. Feito com coco e abacaxi em calda (e havia sempre uma brincadeira na família relacionando o presidente Vargas ao abacaxi), o pudim também apresentava a camada superior brilhante e translúcida. Fui buscar imagens na internet e elas não são assim. Mas minha lembrança não me engana: o pudim da Vó tinha aparência semelhante a de seus quindins. E, talvez por isso, ou por culpa de sei lá qual ingrediente ou falta de jeito, ele trincava (sempre!) quando era desenformado. Ficava gostosíssimo, mas perdia o formato perfeito. De qualquer modo, mesmo com suas quebras ou rachaduras, desmontado ou não, o pudim desaparecia rápido por conta das repetições que, sem nenhuma culpa, todos pedíamos.    

Fotos? Impossível. Nem todo arquivo do google seria capaz de representar tudo isso tal como me lembro.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Deu certo!

Outro dia contei que sou muito "certinha" ao seguir receitas e roteiros. Bem, hoje fiz tudo diferente. Eu tinha uma receita de "wok de frango" e resolvi pôr em prática. Até pensei em chamar minha irmã para experimentar, mas era um pouco tarde e, afinal, não havia efetivamente conferido se tinha todos os ingredientes necessários. Não tinha, constatei imediatamente. Para falar a verdade, por aqui só havia o frango, o mel e um limão da lista que era bem mais extensa. 

Tudo bem. Sem convidados, dava para ensaiar qualquer coisa e, se ficasse intragável... 

Não ficou, muito pelo contrário, adorei meu almoço. E passo a "receita", produzida com o que tinha em casa. 

Meus ingredientes foram coxa de frango desossada, limão, mel, castanha do pará, óleo, sal e pimenta. Primeiro fiz uma mistura com o limão, o mel, a castanha (que havia triturado no processador), o sal e a pimenta. Cortei a coxa de frango em pedacinhos e deixei de molho nessa mistura por uns 20 minutos. Em seguida, derramei um pouco de óleo na panela wok e esperei que ele ficasse bem quente. Coloquei o frango, mexendo de vez em quando até que ele ficasse com uma bonita cor. Por fim, acrescentei o que sobrou da mistura e tampei a panela. O frango ficou douradinho, o molho borbulhava e tudo isso abriu meu apetite. Uma provinha e constatei: deu certo!



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Os sabores do palácio

Um filme para quem gosta de cozinha, para quem ama os bastidores de uma cozinha extraordinária ou, simplesmente, para quem guarda com afeto memórias de sabores passados. Assim é Les saveurs du palais que há poucos dias entrou em cartaz nos cinemas brasileiros. 

Os sabores do palácio são criados por Hortense, uma mulher do interior da França que, subitamente, é trazida a Paris para ser a responsável pela cozinha pessoal do presidente da república. Surpreendida com o convite, ela chega à capital sem saber, precisamente, quem a está contratando. O velho chefe de estado tivera notícia de suas habilidades e ansiava por uma comida tradicional, reconfortante, "genuína". Ela se entregará totalmente a essa tarefa, ao mesmo tempo em que demonstrará sua desatenção e desprezo aos protocolos e maneirismos do palácio. Obviamente, seu sucesso vai provocar ciúmes e incontáveis atritos com o chef e funcionários da cozinha oficial.

Les saveurs du palais se baseia na história de Danièle Delpeuch que efetivamente cozinhou para Mitterand, durante dois anos de seu mandato. Segundo contam, Mitterand queria voltar à cozinha de seus avós, experimentar outra vez a comida da campagne




O filme gira em torno de Hortense, sua busca por produtos, fornecedores e cardápios "autênticos'. Essa busca vai fazer com que, em algum momento, ela seja capaz de abandonar a cozinha para comprar pessoalmente algum ingrediente ou exija que seu jovem colaborador ensaie inúmeras vezes a feitura um doce para reproduzir da forma mais acurada possível uma receita secular. Essa busca vai implicar que ela contrarie determinações de nutricionistas e, por fim, que acabe estourando o orçamento previsto para a cozinha particular. Hortense não se submete facilmente às regras. Seu objetivo é, tão somente, agradar o paladar do velho presidente. Quando pergunta a seu patrão que tipo de cozinha desejava, ele responde: "uma cozinha simples", "sem complicações nem decorações inúteis", uma cozinha que permita "redescobrir o sabor das coisas". Presidente e cozinheira se entendem perfeitamente.

Os dois partilham o amor pelas velhas receitas. Trocam memórias de sabores. Ele recita como se poesia fosse um trecho de um antigo livro de receitas. Ela se empenha na busca dos melhores ingredientes, da mais perfeita consistência para seus molhos, da maciez das carnes, do sabor e do aroma de cada prato. Mas preciso dizer que as refeições que prepara estão longe de parecer "simples" para mim (e acredito que para muita gente). As minúcias dos procedimentos, a quantidade e qualidade dos ingredientes (quantas cerejas e pistaches, trufas e cogumelos!) e as incríveis combinações de elementos, texturas e processos me impressionam! Face a tudo isso, até um "simplório" repolho pode se transfigurar num prato sofisticado, envolvendo um salmão numa apresentação requintada. Olhe só:



A sobremesa especial preparada por Hortense para algumas ocasiões é o tradicional doce Saint Honoré. Um belo arremate que brilha na tela e aguça o paladar da assistência.



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um almoço bem comportado

Admiro quem inventa e arrisca na cozinha, mas sou daquelas que gosta de ter à mão uma receita. Costumo seguir os roteiros passo a passo. Um tanto de insegurança, admito. Talvez precise ensaiar mais e ousar me lançar "sem rede de proteção". Por enquanto, faço tímidas iniciativas, mudando aqui ou ali alguns ingredientes, ousando apenas na decoração ou em detalhes triviais. 

Talvez por isso seja uma apreciadora de programas de culinária e uma colecionadora de receitas. E não dá para se queixar neste quesito. Muito pelo contrário, a televisão está repleta (até demais) de programas de todo tipo, da cozinha mais sofisticada à mais familiar, para gostos requintados e para quem quer preparar um "bastantão" capaz de matar a fome de toda a família. Nas livrarias é possivel encontrar livros e revistas de chefs renomados e de outros nem tanto. Mesmo que não se registre tudo o que aparece (e isso seria impossível), há pitadas de informações e dicas de práticas que podem ser interessantes e valiosas para cozinheiras amadoras como eu.

Combinando duas receitas que vi em algum lugar, preparei neste domingo um peixe assado e um prato de aspargos que deram conta do recado.

O peixe recomendado era o robalo, mas não encontrei. Usei então um lombo de cação. Comprei congelado, mas tive tempo de descongelá-lo sem atropelos. Antes de levá-lo ao forno, deixei-o marinando, por cerca de meia hora, numa combinação de limão, azeite extra-virgem e mostarda dijon (1 colher de chá). Numa outra vasilha, misturei cebolas pequenas, tomatinhos-cereja e batatinhas redondas também pequenas (essas já levemente cozidas) com azeite, sal, pimenta e alecrim. Esqueci das azeitonas pretas que também deviam ter sido acrescentadas. A travessa foi ao forno com o peixe rodeado pelos legumes. Sobre tudo salpiquei sal e pimenta.


Quanto aos aspargos, comecei lavando-os muito bem e retirando as pontas esbranquiçadas e duras. Cortei-os depois na diagonal em duas ou tres partes e mergulhei-os numa panela com água fervendo. Esperei só um tantinho para a fervura levantar novamente e depois de dois minutos retirei-os da água. Enquanto os aspargos ainda estavam quentes, coloquei sobre eles azeite, raspas de limão e queijo parmesão recém ralado, misturando tudo. 

Pronto o peixe (que não levou mais do que trinta minutos), levei-o à mesa junto com o prato de aspargos. Um almoço "bem comportado", leve e saudável. E muito gostoso, modéstia à parte.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Orgia de vegetais

No domingo, o cozinheiro anunciou que teríamos uma "orgia de vegetais". Encontrei-o no meio do preparo, com espetinhos alinhados de cebola roxa, alho-poró, cogumelos e maçãs prontos para irem ao forno. 


Numa tigela ao lado já descansava um bom punhado de tomatinhos-cereja que tinham sido previamente assados. Adiante, outros dois conjuntos de espetinhos: de queijo defumado e de bananas.


À mesa, toalha e pratos azuis e brancos harmonizavam-se com um vaso de flores alaranjadas. Um contraste colorido para o dia enferrujado e frio que ficara lá fora. O arroz tingido de açafrão iria agregar amarelo ao conjunto de cores dos vegetais e frutas. 
Agora tudo se reduzia a uma questão de tempo, ou melhor, de regência de tempos, pois cada vegetal e fruta certamente teria seu ritmo próprio para assar. 
Um tantinho de apreensão; era o primeiro ensaio dessa "orgia". Aqui ou ali pequenos ajustes: descer um espetinho que estava quase no ponto, aproximar outro do calor.  Por último, dedicar-se à finalização do prato, combinando cada uma de suas peças.



Sobre o arroz, os cubinhos de queijo derretido e os tomates-cereja; coroando a travessa, os espetinhos de cogumelos, cebola, maçã, banana e alho-poró. Ao lado, num pequeno bule, o molho surpresa, feito das polpas de amoras e de manga condimentadas com sal e pimenta.

Diferente, distinto, delicioso.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Por outro lado...

Outro dia lembrei (cheia de saudades) da feijoada "com todos seus pertences" como alguns costumam dizer. Hoje a mensagem quase pode ser considerada um contraponto. Fui levada a um restaurante relativamente novo na cidade (pelo menos novo para mim) que faz a linha saudável: o Quintal orgânico.

Uma casa clara, situada numa esquina elevada, onde o branco é uma constante: nas paredes, na louça, toalhas e guardanapos. À frente do prédio, uma horta sugestiva é formada por canteiros alinhados de alface, rúcula, cebolinha, etc. etc. Chegamos cedo e, antes de escolhermos a mesa, espiamos a lojinha de pequenos objetos, brinquedos artesanais e lembrancinhas de festa, que fica logo à entrada.

O dia estava gélido e logo pedimos um cálice de vinho para acompanhar a refeição (a casa só funciona para almoço). Recebemos o cardápio que anuncia que o restaurante participa do movimento "segunda-feira sem carne", criado por Paul McCartney e que atualmente se espalha por muitos lugares no mundo. 


Era segunda e, portanto, a refeição seguia esse princípio. O couvert (adorável, logo descreverei) é seguido de uma entrada, um prato principal e sobremesa. Fixo para cada dia da semana, muda mensalmente e contempla sempre uma opção vegetariana. 

Fui conquistada de cara pelo couvert: uma pequena xícara de caldinho de feijão acompanhada de pão preparado no local com uma pipeta de azeite de oliva e uma bisnaguinha de manteiga orgânica.
Encantador, não?



Meu segundo destaque foi o prato principal: o risoto de quinua apresentado dentro de uma mini moranga. Delicioso!


Um mousse de banana e um café foram meus arremates. Depois ficamos conversando ainda um bom tempo. Valeu a pena ter enfrentado aquela manhã fria.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Saudades de feijoada

É tempo de feijoada em Porto Alegre. Aqui, diferentemente de outras regiões do país, é quando o calendário anuncia o inverno que os grandes restaurantes e hoteis também anunciam suas "temporadas de feijoada". Isso não quer dizer que o prato esteja ausente em outros períodos do ano ou que não apareça, com regularidade, nos buffets à quilo e nos restaurantes populares. Mas quando chega o inverno é com pompa e circunstância que o ritual da feijoada com todos os seus ingredientes e aparatos entra triunfalmente em cena. Pelo menos pelas bandas do sul.



Sempre adorei esses momentos. Muito especialmente quando ia no Plazinha, um dos hoteis mais tradicionais da cidade que, desde os anos 1970, é famoso por sua feijoada nos sábados de frio. Logo ao sair do elevador a gente já se deparava com uma mesa atraente com pasteizinhos, linguiça, aipim frito e batidas de cachaça e frutas. Eu costumava fazer meu prato de aperitivo e pedir uma batidinha de côco que, ao fim e ao cabo, era depois repetida e virava minha bebida durante a refeição.

Escrevo no passado não porque o ritual tenha se extinguido, eu é que não tenho mais retomado o hábito. Acabei de algum modo submetida aos discursos, ou melhor, às "pregações" saudáveis que, cotidianamente, recomendam alimentação balanceada, rica em verduras, legumes e frutas, peixes e carnes magras. Que chatura!

Curioso é que a primeira lembrança que tenho de comer uma feijoada "comme il faut", foi no Rio de Janeiro, de biquini, à beira-mar, em Copacabana. Nenhuma preocupação com saúde, o que certamente se explicava por minha juventude e total desconhecimento das ladainhas saudáveis; nenhuma referência ao frio, pois o sol ardia na calçada e na pele. Sentada num boteco com meus primos, descalça e despreocupada, experimentei com prazer a feijoada. E fui seduzida de imediato por tudo aquilo.

Anos depois, em tempos de São Paulo, a feijoada voltou à minha vida. Agora era no Bexiga, com um grupo de amigos, aos sábados (naturalmente) num almoço que não tinha hora para acabar. Na verdade um almoço que costumava se estender por toda a tarde. Pagava-se por cabeça (e pouco) e podia-se repetir quantas vezes se quisesse. Então o bate-papo corria solto e, de tempos em tempos, o garçom enchia outra vez as cumbucas e nós, que estávamos preocupados em resolver todas as mazelas do país (esse foi um tempo de grandes debates políticos), retomávamos a combinação do arroz, feijão, costelinha de porco, farofa, etc.



Algumas vezes também ensaiei preparar o ritual aqui em casa. Dava certo. Desde a véspera eu me empenhava em dessalgar as carnes, deixar o feijão de molho, encaminhando tudo para o dia seguinte (um sábado "por supuesto"), quando então cozinhava o feijão e as carnes separadamente. Essas eram cuidadosamente escolhidas: sempre preferi as defumadas e determinados tipos de linguiça e deixei de lado o pé, a orelha e o rabo de porco. Depois eu juntava tudo numa grande panela, enquanto numa frigideira refogava a cebola picada e jogava algumas conchas do feijão para engrossar o caldo que fervia. Dada à minha pouca habilidade, geralmente eu comprava a couve já cortada em tirinhas finas e passava no azeite, pois não sou muito chegada ao bacon. Ah! fazia também uma farofa e cortava rodelas de laranja para acompanhar. Cores lindas: preto, branco, laranja, verde...Cheirinho gostoso. E gente, porque feijoada tem graça quando reúne um grupo de pessoas.

Enfim, lembrando todos esses momentos, me dou conta de que não faz sentido abandonar o ritual. De vez em quando vale a pena esquecer um pouco as precauções de saúde e as dietas! 

sábado, 6 de julho de 2013

Quase minimalista

Ainda que a expressão "cozinha minimalista" seja, muito frequentemente, associada ao projeto arquitetônico desse espaço, há também quem a use para lembrar a possibilidade de produzir com poucos elementos, de forma simples e criativa, refeições atraentes e, paradoxalmente, sofisticadas.

Foi o que pensei quando, um dias desses, fui convidada para jantar na casa de um amigo. Cheguei a tempo de participar do processo de construção do que seria nosso prato principal ou único (para ser bem honesta, melhor seria dizer a tempo de acompanhar e registrar o processo).

A ideia foi utilizar forminhas de cupcakes (olhem o post anterior!) ou muffins para preparar uma quiche. Quando cheguei já encontrei no refrigerador as forminhas cobertas pela massa da quiche. Uma massa que é rica em manteiga e que, consequentemente, é gostosa e calórica. A preparação do recheio foi simples: aos ovos batidos foram acrescentados pedacinhos de queijo gorgonzola e finas fatias de cogumelo portobelo. Colocada essa mistura nas forminhas, elas foram ao forno e... pronto!



Sou gulosa, já comentei várias vezes aqui, mas uma só dessas forminhas acompanhada de uma singela salada e vinho acabou por se constituir num jantar absolutamente saboroso e "suficiente". Valeu! 
(Ah, é bom lembrar que as forminhas eram de silicone e isso facilitou muito retirá-las, garantindo um visual perfeito ao final).


quinta-feira, 4 de julho de 2013

A mania dos Cupcakes

De uns tempos para cá os cupcakes passaram a ser onipresentes. Das festinhas infantis aos casamentos, dos aniversários de gente grande às festas de empresa. Com decorações de todos os tipos, temáticas ou não, têm servido de centro de mesa, atraindo a todo mundo. Melhor seria dizer a quase todo mundo pois eu, decididamente, não me incluo na lista dos seus admiradores.

Reconheço que os cupcakes são bonitinhos, coloridos, mas não me parecem nada extraordinários. Aparentemente sua única diferença em relação ao velho bolinho inglês da lanchonete de minha escola ou da padaria reside na cobertura. Servem bem para acompanhar um chá à tarde, mas como ponto alto de festas, fazendo as vezes de  um doce, não me convencem!


Fui buscar informação sobre os ditos bolinhos e constatei o óbvio: é para a cobertura que se voltam as atenções. A massa do bolinho propriamente dita é feita geralmente com farinha de trigo, baunilha açucar, ovos, leite... mas há também os que são feitos com cenoura que parecem mais fofinhos. As receitas para a cobertura quase sempre têm como base cream cheese e açucar de confeiteiro aos quais se agregam outros ingredientes, como limão, chocolate branco, côco, abacaxi, ou mesmo bourbon ou conhaque, quando se deseja um toque mais adulto.

As defensoras do bolinho garantem que a cobertura feita de ganache é muito mais gostosa e dizem que não posso esquecer dos cupcakes recheados que, supostamente, ganham em cremosidade e superam minha crítica de que esse é um bolo seco e sem graça. 

Enfim, acho que estou na contramão de uma preferência nacional e internacional, haja vista esse quiosque que fotografei numa rua de Nova York:


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em casa, cogumelos recheados

Fico escrevendo sobre comidas e viagens e isso talvez passe uma ideia de glamour que, efetivamente, não é o meu cotidiano. Será o cotidiano de alguém? Quem sabe esse não é um dos efeitos possíveis e recorrentes dos registros virtuais? Inversamente, me pergunto se não seria possível ver/produzir alguma graça (e glamour) no dia-a-dia se nossos sentidos estivessem mais "abertos".

Num dia desses, pensei no que fazer com os ingredientes que tinha à disposição em casa. Estava sozinha e o mais provável seria comer qualquer coisa que tivesse sobrado de refeições anteriores. Talvez complementar com uma salada ligeira, eventualmente preparar uma massinha ou uma omelete ou, quem sabe, descongelar uma porção de arroz e de feijão que costumo deixar de reserva no freezer para os momentos de preguiça.

Mas resolvi que o almoço desse dia poderia ser um pouquinho mais caprichado e que eu merecia mais cuidado (ainda que tal cuidado fosse auto-promovido). Havia no refrigerador alguns itens interessantes que poderiam ser bem combinados: uma caixa de cogumelos portobelo que dentro de alguns dias teria seu prazo de validade esgotado, algumas fatias de presunto cru bem fininhas de uma marca nova que eu havia apreciado e também um pedacinho de queijo de cabra delicioso. Seria simples, muito simples, fazer cogumelos recheados. Aqueci o forno enquanto fazia o preparo, lavando e picando os ingredientes. Por cima de alguns cogumelos coloquei salsinha para dar um toque mais bonito no visual. 


Poucos minutos depois estavam prontos. Foi só isso. Nada espetacular, nada extraordinário, mas que o meu almoço teve alguma graça lá isso teve.





sexta-feira, 7 de junho de 2013

Em Zermatt, a batata rosti

Eu nada sabia sobre o lugar. Para ser sincera, eu sabia pouco sobre a Suiça. Mas nessa viagem, para além da cosmopolita Genebra, tive chance de visitar cidadezinhas e lugarejos quase escondidos.

Zermatt foi um desses lugares. Uma estação de esqui em meio aos Alpes que tem como sua principal referência o Matterhorn, a montanha ícone da região com mais de 4.500 metros de altitude. (Não custa lembrar que, além de cenário de lendárias e dramáticas escaladas, o Matterhorn é também o símbolo do chocolate Toblerone). Mas voltando a Zermatt: esse é um povoado encantador de pouco mais de seis mil habitantes que, na temporada de inverno, tem sua população muitas vezes multiplicada. Uma rua principal -- com suas lojinhas, restaurantes, pousadas, uma praça e uma igreja -- cortada de pequenas ruelas. Nos céus, observamos com curiosidade helicópteros trazendo provisões, gêneros de toda espécie, provavelmente a forma mais viável de abastecer o lugar. Aqui ou ali vemos alguns montanhistas com suas bengalas ou bastões e uns poucos jovens carregando esquis. Seriam, quem sabe, os últimos remanescentes da temporada que findava; afinal estávamos em maio e a primavera já começava, embora a paisagem não parecesse confirmar o calendário.

Alguns companheiros de viagem pegam o funicular que os levará até uma montanha próxima de onde devem observar o Matterhorn mais de perto. Nós decidimos ficar ao pé do monte, explorando o vilarejo. E é assim que, ao final da rua, depois da praça e da igreja, encontramos o restaurante onde iríamos provar o prato típico da região: batata rosti com salsicha. (As nuvens atrapalham o olhar mas lá fundo esta a famosa montanha)


Mas a comida acabaria por não se constituir na única atração do almoço. Antes há que prestar atenção ao lugar: um restaurante modesto, de mobiliário simples e preços acessíveis. Aparentemente nada demais não fosse pelo fato de mostrar, no jogo americano que cobria a mesa, a data de sua inauguração: 1600. Sim, estávamos no mais antigo restaurante da região.



Ensaiamos o pedido, aproveitando que uma das parceiras da mesa fala alemão. Mas a garçonete já se antecipa, sorrindo e respondendo em português. Não há motivo para espanto. Como alguém nos prevenira, embora a língua oficial de Zermatt seja o alemão (pois a comuna faz parte do cantão germânico da Suiça), cerca de 50% de sua população fala o português. Beleza! Tudo parece mais fácil agora.

Quanto ao prato propriamente dito, consiste de batata (crua ou cozida) ralada e frita na manteiga ou  outro tipo de gordura e "prensada" na frigideira de modo a formar uma espécie de panquena, dourada e crocante. À batata ralada podem ser adicionados cebola, bacon, cogumelos, enfim vários ingredientes. O resultado é mesmo saboroso (tanto que comprei um livreto para tentar replicar por aqui as receitas). A salsicha é quase obrigatória num cantão alemão e pode ser de uma infinidade de tipos. Enfim, é uma comida forte, certamente boa para o inverno pois aquece o corpo e a alma dos caminhantes. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Em Strasbourg, a "tarte flambée"

Estávamos nos aproximando de Strasbourg para iniciar a esperada viagem pelo rio Reno. Situada na região da Alsácia, às margens do rio, a cidade francesa faz fronteira com a Alemanha (na verdade a cidade "continua" do lado alemão com o nome de Kehl). Logo adiante está a Suiça. Portanto uma região fronteiriça, com uma história de disputas e rastros de diferentes culturas. Saimos em busca da famosa catedral que parece surgir "de repente", belíssima e de certo modo surpreendente, por estar quase "prensada" num final de rua, cercada de velhos prédios por todos os lados. Teríamos ali algum tempo livre e o guia nos sugerira experimentar o prato típico da região: a tarte flambée ou flamm'kueche.

Ao longo das ruas estreitas, os restaurantes, ou melhor, os pequenos bistrôs se enfileiram com seus guarda-sóis abertos e cartazes anunciando a especialidade. Conseguimos lugar num deles, muito próximo da catedral o que nos permite comer enquanto apreciamos a paisagem da igreja e o mundo de gente que circula, fotografa, compra souvenirs e exclama em várias línguas.

Os garçons entregam os pedidos rapidamente, afinal o lugar é turístico e o negócio é faturar. Peço um cálice de vinho e a tarte. Quando o prato chega fico um tanto desapontada, pois o que recebo é, segundo me parece, uma pizza fininha, com cogumelos e presunto. Crocante e gostosa, é verdade, mas tão fininha que tenho certeza que não vai saciar meu apetite. De qualquer modo me entrego com prazer ao almoço. 

Ao encontrar os companheiros de viagem, percebo que outros ficaram, tal como eu, desconfiados sobre a eventual diferença entre a tarte e uma pizza paulistana bem caprichada. Efetivamente, constato que a massa e a preparação no forno (geralmente à lenha) é semelhante, no entanto, enquanto a pizza é coberta com molho de tomate, a tarte flambée (que não é flambada, tal como o nome sugere) recebe uma camada de creme de leite fresco ou queijo branco. Depois as coberturas podem variar, como se vê no quadro negro: 


E, para agradar turistas de todos os costados, ainda há barraquinhas que apresentam tudo junto (tartes, pizzas, hot dogs, pretzels, crepes, etc. etc.)...



sexta-feira, 31 de maio de 2013

Da janela, outros campos

Embora viva numa região que exalta seus campos, não posso me considerar particularmente encantada por essas paisagens. Por certo tenho o olhar atraído pelos arrozais e vinhedos do Rio Grande, sou capaz de apreciar a beleza da terra cultivada e das moradas que, aqui ou ali, pontuam o cenário, mas não costumo me demorar nessa contemplação. Olho os campos através da janela, espio um tantinho a vida rural para, logo depois, desviar a vista. Quase de imediato me pego pensando em como seria morar por ali... e um sentimento de isolamento perturba a percepção de sossego que talvez se revele mais forte a outros observadores. 

Mas às vezes a paisagem se impõe por mais tempo. Seja por sua extensão, pela estranheza de uma terra desconhecida ou mesmo por estar "presa" a um trem. Foi assim que me vi, há poucas semanas atrás, instada a admirar campos estrangeiros, passando pela Alemanha, Suiça e Holanda. Não digo que são mais bonitos que os daqui. Simplesmente me dispus a olhá-los por mais tempo.



O primeiro impacto foi a cor. Constato -- sem qualquer originalidade -- o óbvio: a infinidade de tons que se exibem. A primavera estava começando naquela região e, embora o frio fosse ainda muito intenso, tudo brotava. Se nos campos árvores, arbustos, plantações e gramados tinham tonalidades inimagináveis, nas pequenas cidades e vilarejos as flores se mostravam absolutamente deslumbrantes. Arranjadas em jardins cuidadosíssimos, era impossível deixar de fotografa-las.






Mas devo voltar aos campos. Era deles que eu pretendia falar. Em meio às múltiplas tonaliidades de verde, extensos terrenos de um amarelo compacto criavam uma luminosidade inédita. Eram campos de canola, me explicaram. E eles se repetiam magníficos, ao longo das estradas. 


Adiante, lonas pretas protegiam uma preciosidade da gastronomia local: os aspargos. Aprendo sobre a importância de consumi-los imediatamente após a colheita, no dia seguinte, conforme um guia expert nos aconselha. E, além de prová-los de variadas formas (em cremes e acompanhamentos, com peixes e carnes), me encanto de vê-los in natura, nas barracas das feirinhas que se espalham pelas ruas estreitas das pequenas cidades.



A viagem continua. Há mais lugares, pessoas e coisas para lembrar...

terça-feira, 9 de abril de 2013

Um havaiano em Porto Alegre

Há algum tempo atrás fiquei surpresa quando notei que uma velha casa de esquina, perto de onde moro, havia se transformado num restaurante havaiano. Por certo isso não acontecera da noite para o dia mas, por algum motivo, me "escapara". Surgia pronto, instigando minha curiosidade. O que fazia um restaurante havaiano em Porto Alegre? Em que consistiria, afinal, uma cozinha havaiana?

Imaginei algo em torno de frutas (abacaxi e côco, certamente), provavelmente peixe e talvez porco (sei lá por que pensei nisso). Minha ignorância era preenchida pelas lembranças vagas e distantes dos filmes hollywoodianos (como esquecer o Feitiço Havaiano de Elvis Presley?). Dada a precariedade de meus conhecimentos e disposta a resolver o enigma, fui conhecer o Lanai -- assim se chama o lugar. 

O ambiente é pequeno e despretensioso, cercado de objetos e quadros que lembram o Havaí. Sobre as mesas não há toalhas mas jogos americanos de palhinha, buscando, suponho, sugerir a informalidade das ilhas. A proprietária, que também é a chef, me recebeu com gentileza e contou da proposta um tanto quanto "fusion" do cardapio. Até aí nada de esotérico, uma vez que o arquipélago experimenta efetivamente uma mistura de culturas. Desde que foi anexado aos Estados Unidos, nos  primeiros anos do século XX, e principalmente depois de 1959, quando se tornou um estado norte-americano, o Havai recebe imigrantes de várias partes do mundo. Quase como consequência, sua culinária acabou se tornando uma combinação de diferentes tradições e culturas, incluindo, obviamente, muito peixe, camarão, vegetais e frutas locais.

O cardápio do Lanai tem esse tom. Não é muito extenso (o que geralmente me parece um bom sinal), mas tem alternativas suficientes para atender uma clientela diversificada. Repeti a visita várias vezes, desde que o "descobri" em 2011. Geralmente peço camarões.Gosto de perceber o ponto de cozimento que combina maciez e crocância. Gosto também da ardência dos molhos apimentados e do gengibre presentes em muitos pratos. Mais recentemente experimentei um peixe acompanhado de legumes e um mil folhas que combinava queijo, alho poró e algo mais... Infelizmente não tomei nota na hora e, assim, meu registro ficou só na foto e na memória de um sabor muito muito especial!


sexta-feira, 15 de março de 2013

Domingo na Lagoa

Domingo de sol escaldante no Rio. Por um motivo qualquer acordei tarde e a praia já não me parecia atraente. Estaria super cheia, com certeza. A disputa por uma estreita faixa de areia e o amontoamento debaixo do guarda-sol não pareciam uma boa ideia. A proposta é, então, rumar para a Lagoa. Cercada por morros, com o Cristo Redentor lá no alto, essa é uma bela pedida. Além do mais agora funciona ali um "complexo" com cinemas, bares, uma casa de shows e alguns restaurantes. Isso significava que se poderia derramar o olhar por um cenário de luxo e, ao mesmo tempo, saborear um bom almoço (com ar condicionado!).

O espaço (as usual) adota um nome estrangeiro: Lagoon. O setor gastronômico, mais recente, é o Lagoon Gourmet. À entrada, uma recepcionista pergunta a qual restaurante pretendemos ir. Ali funcionam o Giuseppe Gril Mar, o Pax Delicia, o Quadrifoglio Caffé, o Gula Gula e o San Remo. Escolhemos o Pax Delicia. Somos encaminhados para lá, em seguida. Na passagem temos chance de espiar uma "poderosa" adega (com cerca de 1800 rótulos) que serve a todos os restaurantes. Entre os restaurantes há uma área de estar e circulação que acaba por se constituir num grande lounge, com sofás, mesinhas e um bar para quem tem de esperar. Do lado de fora, há uma varanda igualmente espaçosa e atraente, com mesas, cadeiras e ombrelones para quem deseja comer ao ar livre. Como o calor é intenso deixamos a ideia para outro momento.



O movimento é grande e esperamos um tanto para que cheguem à nossa mesa os tres pedidos: combinado de sushi, sashimi e roll; ceasar salad com tempura de salmão; carpaccio de carne com mozzarella de bufála, tomate seco, alcaparras e manjericão. 



Enquanto aguardamos, aproveito para circular um pouquinho e sou atraída por uma bancada com aparência de feira na qual estão dispostos peixes sobre gelo. Conforme são solicitados pelo restaurante (o Giuseppe Gril Mar) os peixes são pesados e passados através da janela. Acho curioso e inusitado. Um monte de caixas com batatas, cenouras e cebolas compõem esse recanto. Tudo dá um tom de informalidade e graça ao lugar.


Um programa interessante e agradável. Um espaço cheio de beleza e sabor.