sábado, 14 de setembro de 2013

Memórias e sabores

Fiquei brincando com o título deste post: memórias de sabores, o sabor das memórias... O jogo de palavras pode se estender, sugerir nuances, mas o que o move é, sempre, a saudade.

Lembro de cheiros e gostos experimentados noutros tempos, carregados de afeto. Daí à cozinha de minha avó é só um pulo, imediato. Suas empadinhas de palmito eram famosas. Recordo do conjunto de forminhas alinhadas no forno e tenho até uma vaga ideia de ter ajudado, alguma vez, a unta-las. Eram feitas com massa podre e se  desmanchavam na primeira mordida, esfarelando-se em mil pedaços. Não me lembro de ser repreendida pela bagunça dos farelos que saltavam do prato e caíam sobre a mesa.  Penso que essas empadinhas apareciam em dias especiais, não era sempre que a Vó se dispunha a fazê-las. Talvez fosse em época de festas, páscoa, aniversários. Não sei bem. Mas não esqueço o sabor que tinham e a farra e a disputa que fazíamos ao comê-las. 

E os quindins? Ah! Eles eram magníficos! Por cima, translúcidos, de um dourado brilhante; embaixo, uma massa de coco perfeita. Tornaram-se o meu doce favorito. Costumo dizer que seria meu último pedido se fosse condenada à morte. Mas para ser efetivamente qualificado como o máximo dos máximos na escala dos doces, é indispensável que o quindim exiba no seu topo aquela transparência especialíssima que a Vó conseguia (e olhe que ela não dispunha de glucoses industrializadas!). Passei toda a vida provando quindins. Achei muitos decepcionantes, embaçados; alguns razoavelmente bons; mas nenhum, jamais, igual aos dela!

Uma espécie derivada dessa receita era o Pudim Getúlio. Era reservado como sobremesa para os grandes almoços de aniversário de meu avô e também de meu pai, que o adoravam. Feito com coco e abacaxi em calda (e havia sempre uma brincadeira na família relacionando o presidente Vargas ao abacaxi), o pudim também apresentava a camada superior brilhante e translúcida. Fui buscar imagens na internet e elas não são assim. Mas minha lembrança não me engana: o pudim da Vó tinha aparência semelhante a de seus quindins. E, talvez por isso, ou por culpa de sei lá qual ingrediente ou falta de jeito, ele trincava (sempre!) quando era desenformado. Ficava gostosíssimo, mas perdia o formato perfeito. De qualquer modo, mesmo com suas quebras ou rachaduras, desmontado ou não, o pudim desaparecia rápido por conta das repetições que, sem nenhuma culpa, todos pedíamos.    

Fotos? Impossível. Nem todo arquivo do google seria capaz de representar tudo isso tal como me lembro.

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