sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Os sabores do palácio

Um filme para quem gosta de cozinha, para quem ama os bastidores de uma cozinha extraordinária ou, simplesmente, para quem guarda com afeto memórias de sabores passados. Assim é Les saveurs du palais que há poucos dias entrou em cartaz nos cinemas brasileiros. 

Os sabores do palácio são criados por Hortense, uma mulher do interior da França que, subitamente, é trazida a Paris para ser a responsável pela cozinha pessoal do presidente da república. Surpreendida com o convite, ela chega à capital sem saber, precisamente, quem a está contratando. O velho chefe de estado tivera notícia de suas habilidades e ansiava por uma comida tradicional, reconfortante, "genuína". Ela se entregará totalmente a essa tarefa, ao mesmo tempo em que demonstrará sua desatenção e desprezo aos protocolos e maneirismos do palácio. Obviamente, seu sucesso vai provocar ciúmes e incontáveis atritos com o chef e funcionários da cozinha oficial.

Les saveurs du palais se baseia na história de Danièle Delpeuch que efetivamente cozinhou para Mitterand, durante dois anos de seu mandato. Segundo contam, Mitterand queria voltar à cozinha de seus avós, experimentar outra vez a comida da campagne




O filme gira em torno de Hortense, sua busca por produtos, fornecedores e cardápios "autênticos'. Essa busca vai fazer com que, em algum momento, ela seja capaz de abandonar a cozinha para comprar pessoalmente algum ingrediente ou exija que seu jovem colaborador ensaie inúmeras vezes a feitura um doce para reproduzir da forma mais acurada possível uma receita secular. Essa busca vai implicar que ela contrarie determinações de nutricionistas e, por fim, que acabe estourando o orçamento previsto para a cozinha particular. Hortense não se submete facilmente às regras. Seu objetivo é, tão somente, agradar o paladar do velho presidente. Quando pergunta a seu patrão que tipo de cozinha desejava, ele responde: "uma cozinha simples", "sem complicações nem decorações inúteis", uma cozinha que permita "redescobrir o sabor das coisas". Presidente e cozinheira se entendem perfeitamente.

Os dois partilham o amor pelas velhas receitas. Trocam memórias de sabores. Ele recita como se poesia fosse um trecho de um antigo livro de receitas. Ela se empenha na busca dos melhores ingredientes, da mais perfeita consistência para seus molhos, da maciez das carnes, do sabor e do aroma de cada prato. Mas preciso dizer que as refeições que prepara estão longe de parecer "simples" para mim (e acredito que para muita gente). As minúcias dos procedimentos, a quantidade e qualidade dos ingredientes (quantas cerejas e pistaches, trufas e cogumelos!) e as incríveis combinações de elementos, texturas e processos me impressionam! Face a tudo isso, até um "simplório" repolho pode se transfigurar num prato sofisticado, envolvendo um salmão numa apresentação requintada. Olhe só:



A sobremesa especial preparada por Hortense para algumas ocasiões é o tradicional doce Saint Honoré. Um belo arremate que brilha na tela e aguça o paladar da assistência.



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