Mais um livro para o blog. Mais uma vez é uma jornalista que narra suas andanças e convida a viajar pela Itália, agora no cenário da Úmbria e da Toscana. Rosa Nepomuceno nos faz seguir os caminhos das oliveiras e dos azeites, do cultivo e da colheita, da produção nos velhos moinhos e nos modernos tanques de aço, desde as pequenas empresas familiares até os gigantes da indústria.
Apesar de grande apreciadora de azeite, descobri o quanto eu não sabia a respeito desse óleo precioso. É verdade que, de uns tempos para cá, surgiram muitas butiques de azeite, especialmente nas grandes cidades. Ali se degusta e se compra distintos tipos de óleo a preços também muito especiais. Já me atrevi a entrar em alguns desses espaços e trazer, com muito cuidado, alguns frascos na bagagem. Mas percorrer as estradas dessa região privilegiada e conhecer, através do olhar atento dessa escritora, os segredos de cada etapa da produção é outra coisa! Diz ela:
... o caminho da azeitona ao azeite precisa ser cumprido com rigor e ritmo, em todas as etapas para que o fio de ouro, sensível aos menores agentes externos, chegue à mesa com todos os seus atributos.
Descubro, por exemplo, que uma azeitona que cai no chão e 'se machuca', está impossibilitada de entrar na produção de um extravirgem e que alguns produtores ainda preferem que a colheita seja feita manualmente. Há colorido e graça na descrição desse tipo de colheita mais comum entre os produtores de azeites artesanais. É sempre um grande momento, que envolve toda a família e também amigos, vizinhos, empregados. Como a colheita de azeitonas jovens (ideais para a produção de azeites mais frutados e frescos) é feita durante a noite e a madrugada, até mesmo os bebês são levados para os olivais e dormem em cestas forradas, enquanto todos estão na faina de colher, até mesmo os avós. Os produtores argumentam que dormir e mamar sob as oliveiras fortalece as crianças, diz Rosa.
Encanta-me, também, conhecer o castelo sombrio, localizado em meio a um burgo do século XI, onde tres mulheres (a mãe viúva e suas duas filhas solteiras) levam avante a tradição da família, produzindo azeite num antigo moinho, de mós gigantes. A respeito dessas mulheres contam-se histórias no burgo e fala-se de uma maldição. De qualquer modo, prisioneiras do tempo e do lugar, elas sobrevivem do seu trabalho, isoladas da próspera empresa de vinhos e azeites que lhes é vizinha.
Essas foram algumas das passagens que me fascinaram, mais do que saber das grandes empresas, dos maquinários sofisticados, ou mesmo aprender sobre os tipos de azeite. Informações importantes e valiosas, assim como é a coletânea de receitas que fecha o livro; mas as estradinhas e as pessoas "escondidas", essas sim atiçaram minha fantasia!
Que lindo! O escondido, o recôndito, a tradição, que lindo mesmo. Ufa, indá bem que isso existe faz tempo, e resiste. s
ResponderExcluir