terça-feira, 1 de maio de 2012

A refeição que nunca consegui esquecer

Uma importante revista de gastronomia manteve, por muito tempo, uma seção na qual perguntava a pessoas de destaque qual a comida que haviam provado e nunca mais esquecido. Lembro de ler com frequência essa tal seção e pensar sobre a resposta que eu poderia dar. 

Como quase todo mundo, tenho muitas lembranças familiares ligadas à comida. Minha avó paterna foi grande doceira,  ela fazia quindins, papos de anjo, rabanadas, o pudim "getúlio" e, em ocasiões muito especiais, sua famosa "lampreia", um doce português de ovos, muito trabalhoso e que tinha o formato do peixe-cobra (a lampreia propriamente dita). Minha mãe fazia bolinhos de bacalhau crocantes que se desmanchavam quando eram mordidos. Lembro também de um delicioso bolo de laranja feito por minha madrinha que era 'molhadinho" por dentro.

Claro que, para além das comidas familiares, houve o prazer experimentado em muitos restaurantes. Não esqueço, por exemplo, do primeiro brunch que conheci. Meu companheiro e eu recém tínhamos aterrisado em San Francisco, na California, e pegado o carro que havíamos alugado. Era um domingo ensolarado. Cansados da viagem e ainda um tanto temerosos com o carro novo, vimos um cartaz que anunciava "all you can eat for U$ 15". Entramos no restaurante e me deparei com algo que me pareceu uma "orgia" alimentar:  "ilhas" de pães, de massas, de rosbifes, frutas, patês, etc. etc. Fiquei absolutamente encantada! Posso assegurar que todos os outros brunchs que provei na vida e aqueles que mais tarde eu mesma preparei jamais conseguiram chegar perto desse, o primeiro que experimentei.

Também houve um tempo em que morei em São Paulo e, dependendo do grupo de amigos e das disponibilidades econômicas, íamos dos botecos do Bexiga até alguns restaurantes um tanto metidos dos Jardins. Desses muitos lugares ficaram lembranças que, por certo, não se resumem à comida e à bebida provadas, mas têm a ver com as pessoas que rodeavam a mesa, com o humor, as conversas e as questões que naquele momento nos mobilizavam. 

E, ainda que eu me lembre de tantos encontros e pratos deliciosos, sempre que me disponho a responder à questão da revista me vem à mente uma mesma comida: um sanduíche de pernil que provei em São João Del Rei. Isso mesmo. Simples assim, banal até: um sanduiche preparado num bar que "devorei" com imenso prazer.  Fartas lascas de pernil, muito bem temperadas por um molho não sei de que, envolvidas por um pão novinho e crocante mais uma cerveja gelada. Por certo ao tempero do pernil (que era mesmo muito bom) se juntavam a satisfação de ter cumprido com sucesso mais de seis horas de viagem (boa parte delas com forte neblina) na direção do meu carro de São Paulo até ali, carregando mais dois amigos, e a minha fome que, a essa altura, era enorme. Não sei o nome do bar ou boteco, mas sei que o sanduíche era generoso. Eu via pela primeira vez aquela cidade, era jovem e, naquele momento, me sentia "poderosa". 

Gostaria de dar uma resposta mais sofisticada à pergunta, mas efetivamente essa é a refeição que nunca consegui esquecer.

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