quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um rosbife garantido

Há vários pratos que, sozinhos, praticamente sustentam uma refeição. Num ambiente muito "carnívoro", como é o do sul do Brasil, um churrasco, uma carne assada ou um rosbife desempenham bem esse papel. Em minha família, acabei me tornando a "dona do rosbife".  Não tem mistério seu preparo. 

Costumo comprar um filet mignon não muito grande, retiro as fibras externas e aparo as pontas de modo a fazer com que a peça toda tenha mais ou menos a mesma espessura e possa assar de modo parelho (é claro que não disperdiço as aparas, elas também serão preparadas). Tempero com sal, louro, um pouquinho de pimenta, às vezes coloco raspas de cebola desidratadas e deixo descansar no refrigerador, numa vasilha tampada, algumas horas (geralmente de um dia para o outro). 

Antes de iniciar o preparo propriamente dito, retiro a carne do refrigerador e deixo na temperatura ambiente no mínimo uns 30 ou 40 minutos. Acredito que isso evita que a carne fique dura. Coloco manteiga e óleo numa panela grande e passo a dourar a carne para  'selar' completamente toda a peça. Esse processo não leva muito tempo.  Enquanto isso, o forno está ligado, para que possa ficar bem quente. Selada a carne, transfiro-a para uma travessa e levo-a ao forno. Como o rosbife supõe uma carne crocante por fora e internamente mal passada, entre o vermelho e o rosado, usualmente bastam 35 minutos no forno para que esteja pronto. (Evidentemente o tempo no forno vai depender do tamanho da peça e, muitas vezes, é preciso testar para verificar se está no ponto).

Sirvo geralmente acompanhado de dois tipos de molho:

1) O molho de cogumelos
Na panela em que a carne foi dourada, aproveito para colocar cogumelos paris naturais fatiados. Eles são salteados, acrescentando-se manteiga, sal, pimenta e também um pouquinho de vinho para ajudar a formar um molho. À medida em que a carne vai assando no forno, recolho o suco que se forma na travessa e agrego a esse molho que, em minha casa, se tornou o acompanhamento "obrigatório".

2) O molho de frutas vermelhas
Muitas vezes apresento também um molho de frutas vermelhas. Devo confessar que para prepará-lo costumo fazer um "atalho". Explico: diluo em fogo baixo uma geléia de amoras (comprada pronta) com o suco de uma laranja e acrescento alguns morangos naturais. Só isso. Está feito o molho alternativo, doce, que combina maravilhosamente com a carne salgada.

Um acompanhamento mais "inglês": mini yorkshire puddings

Esse eu vi na TV, no programa do Jaime Oliver, e experimentei. Muito fácil: bate-se no liquidificador uma caneca de farinha de trigo comum, uma caneca de leite, sal e um ovo. Numa assadeira de forminhas (que já deve estar no forno para ficar bem quente), espalha-se óleo e se coloca a massa. Num forno a 220 graus os puddings ficam prontos e dourados mais ou menos em vinte minutos. E não se deve abrir o forno antes disso. Os meus ficaram com essa aparência:



domingo, 27 de maio de 2012

No Mercado de Porto Alegre

Cada vez que passo pelo mercado público penso que deveria vir com mais frequência. É um lugar tão especial! Muito do passado de Porto Alegre permanece ali. Sua história começa com a inauguração em 1869, mais tarde, alguns percalços e desastres, como a grande enchente de 1941, incêndios e perdas, até que, na década de 1990, o prédio é restaurado, recuperando muito da concepção arquitetônica original.  


Hoje, são muitas os espaços que vendem de tudo, como acontecem nos grandes mercados. Além das muitas bancas de carnes, peixes, verduras, legumes e frutas,  queijos e embutidos, sementes e temperos, vinhos, revistas e jornais, artigos de umbanda, artesanato, lotéricas, padarias, sorveterias, sem esquecer, obviamente, as bancas de produtos regionais (afinal sem erva-mate e cuia não seria um mercado gaúcho), funcionam vários restaurantes, lancherias, uma cachaçaria, barbearia e sei lá mais o que.

No meu passeio não podia faltar uma paradinha na famosa banca 40. Inaugurada em 1927, deve ter servido de ponto de encontro para um mundo de gente (lembro de ouvir meus pais contarem que ali namoravam, muitas vezes). Hoje uma escada rolante foi acrescentada ao cenário. 

 

Suas sobremesas continuam famosas. Percorrendo o cardápio, resolvi experimentar sua "Revolução Farroupilha" (sugestivo o nome, não?) que, afinal, resulta numa exuberante combinação de nata batida, salada de frutas, duas bolas de sorvete de creme, doce de leite, geléia de frutas vermelhas e nozes picadas. Uma delícia que, seguramente, vale pedir com duas colheres para compartilhar com alguém. É imeeensa!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Com todos os sentidos

Pouco depois de sentar à mesa, chegou o pãozinho e a pequena barra de manteiga do couvert simples e tradicional. Só de olhar já dava para ver que o pãozinho estava crocante e o estalo que fez quando o parti com as mãos confirmou isso. Ele estava levemente quente e a manteiga, ao se espalhar, derreteu. O aroma característico dessa combinação generosa antecipou o prazer da mordida. Uma refeição mexe com todos os sentidos.
Quem gosta de comer e de cozinhar, quem gosta de reunir gente ao redor de uma mesa, sabe que é preciso escolher com cuidado os ingredientes, observar seu frescor e qualidade, sentir a firmeza ou a maciez das frutas, verduras, carnes; dedicar atenção ao preparo, aquecer ou resfriar na medida cada elemento, juntar com sensibilidade os temperos, provar, tocar, ouvir, cheirar. Feito isso, há que apresentar com beleza e graça. Oferecer ao olhar uma combinação atraente e de bom gosto. Por isso, me encanta um prato bem apresentado. 

Naquela que é tida como a mais antiga loja de departamentos do mundo, a Macy's de Nova York, por onde circulam milhares de pessoas atraídas pelas compras, carregando pacotes e casacos, mais preocupadas com preços, souvernirs e barganhas do que com uma experiência gastronômica, há vários locais para refeições mais ou menos rápidas. Além de reabastecer energias, esses espaços são capazes de garantir aos vorazes compradores alguns momentos de descanso para seus corpos e suas sacolas. Dentre esses encontra-se, no subsolo, um bar/grill sem maiores pretensões, onde pude saborear um almoço delicado, gostoso e elegante. Foi um grelhado de atum apresentado sobre um couscous de vegetais e finos aspargos verdes, coberto por um molho de abacaxi. O prato chamou minha atenção pela descrição e, a seguir, agradou-me muitíssimo o paladar. Não precisou ser anunciado em francês para impressionar, nem veio acompanhado por garçons onipresentes. Era simplesmente bom e bonito.
(Em contrapartida, uma semana depois, já em Porto Alegre, fui jantar no restaurante de um dos hotéis mais sofisticados da cidade e pedi um prato tailandês. A apresentação desastrosa e grosseira me desanimou. Lamentável!)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Cucina & Co.

Muitas vezes voltar a um lugar que nos encantou resulta em decepção. O encanto costuma estar ligado, entre outras coisas, à surpresa, à novidade, à graça de uma descoberta.  Por outro lado, como não retornar às cidades e aos recantos de que gostamos? A sensação não será idêntica, é claro, quando menos não seja por que nós mudamos e, seguramente, o lugar também. Mas a experiência ainda pode ser prazerosa. Então, seja como for, voltamos.

Um restaurante simples e gracioso tinha se tornado um dos meus favoritos nas viagens que fiz, nos anos 1990, à Nova York. Era o Cucina & Co., localizado no edifício MetLife (anos atrás conhecido como PanAm building). Descobri por acaso, quando visitava a Grand Central Terminal, uma das "atrações" da cidade, tanto pela beleza de sua construção (de 1903) quanto pela imensa rede de trens e metrô que concentra. Escadas rolantes fazem a ligação entre os dois prédios (a Grand Central e o MetLife). Foi nessa travessia que encontrei o pequeno restaurante: aconchegante, com poucas mesas, comida boa e preços acessíveis. Do salão avista-se a cozinha e é possível acompanhar o preparo dos pratos. À noite, suas mesinhas são iluminadas por velas e, entre as ofertas do cardápio, há alguns pratos principais propostos para serem compartilhados por duas pessoas. Por todas essas características, acabei comendo muitas vezes no Cucina tanto que, entre meus "guardados" de viagem, encontrei um menu de 1992.

Ao voltar agora, depois de mais de onze anos, desejei rever o lugar. Há duas possibilidades de chegar até ali, mas como sempre, escolhi a passagem pela Grand Central. Após atravessar a massa de gente apressada que, diferente de nós, turistas, "sabe" exatamente para onde está se dirigindo e que, por isso mesmo, costuma ter pouca paciência com nossas eventuais paradas e indecisões, entrar no restaurante representa encontrar uma "ilhazinha" de sossego. Não que o lugar seja completamente silencioso (há uma música de fundo que, por mim, seria dispensável), mas de qualquer modo, as pessoas que ocupam as poucas mesas conversam em voz baixa e parecem aproveitar com calma sua refeição. A decoração despojada também ajuda a exorcizar o agito.

É verdade que o restaurante fecha cedo (21 horas), já que está aberto desde às 7 horas da manha para o breakfast. Mas sua oferta de saladas, sopas, massas, frutos do mar, sanduíches, sobremesas, café e bebidas se mantém honesta e muito bem apresentada. O pão e a manteiga que abrem a refeição são impecáveis. E os preços continuam significativamente mais baixos do que os praticados no Brasil (em restaurantes mais ou menos semelhantes a esse). Ainda se encontram as ofertas de pratos compartilhados para o jantar. Claro que o preço mudou: em 1992, o "dinner for two" (incluindo sobremesa) ia de U$ 16,95 a U$ 19,95; hoje custa U$ 17,95 por pessoa. No meu reencontro com o Cucina, minha escolha foi um simples risoto de camarões, com tomates e parmesão e minha irmã preferiu o salmão grelhado com espinafre. Ambos deliciosos. Para acompanhar um copo de vinho branco. Então, valeu!


sábado, 12 de maio de 2012

Cores

Em Nova York, tudo é grande, diverso, múltiplo. Apelos e atrações há por todo lado, para todos os gostos.  Para quem se interessa por comida e gastronomia são incontáveis os lugares e ambientes que excitam a imaginação e os sentidos. Antes mesmo de mencionar os restaurantes ou as incríveis lojas de utensílios, aparatos e aparelhos de cozinha, vale a pena olhar e, se possível, cheirar, provar e sentir seus mercados.

Uma primeira e brevíssima amostra de duas referências novaiorquinas: o tradicional Dean & Deluca, do Soho e o mais recente (e imenso) Eataly, inaugurado em 2010, no Flatiron District. Os dois espaços disputam, em primeiro plano, os gourmets e os turistas que, como eu, devem ficar fascinados com os vegetais, pães, massas, queijos, frutos do mar, temperos, azeites, além das comidas ali preparadas. Em destaque aqui as cores e o frescor dos vegetais.

terça-feira, 1 de maio de 2012

A refeição que nunca consegui esquecer

Uma importante revista de gastronomia manteve, por muito tempo, uma seção na qual perguntava a pessoas de destaque qual a comida que haviam provado e nunca mais esquecido. Lembro de ler com frequência essa tal seção e pensar sobre a resposta que eu poderia dar. 

Como quase todo mundo, tenho muitas lembranças familiares ligadas à comida. Minha avó paterna foi grande doceira,  ela fazia quindins, papos de anjo, rabanadas, o pudim "getúlio" e, em ocasiões muito especiais, sua famosa "lampreia", um doce português de ovos, muito trabalhoso e que tinha o formato do peixe-cobra (a lampreia propriamente dita). Minha mãe fazia bolinhos de bacalhau crocantes que se desmanchavam quando eram mordidos. Lembro também de um delicioso bolo de laranja feito por minha madrinha que era 'molhadinho" por dentro.

Claro que, para além das comidas familiares, houve o prazer experimentado em muitos restaurantes. Não esqueço, por exemplo, do primeiro brunch que conheci. Meu companheiro e eu recém tínhamos aterrisado em San Francisco, na California, e pegado o carro que havíamos alugado. Era um domingo ensolarado. Cansados da viagem e ainda um tanto temerosos com o carro novo, vimos um cartaz que anunciava "all you can eat for U$ 15". Entramos no restaurante e me deparei com algo que me pareceu uma "orgia" alimentar:  "ilhas" de pães, de massas, de rosbifes, frutas, patês, etc. etc. Fiquei absolutamente encantada! Posso assegurar que todos os outros brunchs que provei na vida e aqueles que mais tarde eu mesma preparei jamais conseguiram chegar perto desse, o primeiro que experimentei.

Também houve um tempo em que morei em São Paulo e, dependendo do grupo de amigos e das disponibilidades econômicas, íamos dos botecos do Bexiga até alguns restaurantes um tanto metidos dos Jardins. Desses muitos lugares ficaram lembranças que, por certo, não se resumem à comida e à bebida provadas, mas têm a ver com as pessoas que rodeavam a mesa, com o humor, as conversas e as questões que naquele momento nos mobilizavam. 

E, ainda que eu me lembre de tantos encontros e pratos deliciosos, sempre que me disponho a responder à questão da revista me vem à mente uma mesma comida: um sanduíche de pernil que provei em São João Del Rei. Isso mesmo. Simples assim, banal até: um sanduiche preparado num bar que "devorei" com imenso prazer.  Fartas lascas de pernil, muito bem temperadas por um molho não sei de que, envolvidas por um pão novinho e crocante mais uma cerveja gelada. Por certo ao tempero do pernil (que era mesmo muito bom) se juntavam a satisfação de ter cumprido com sucesso mais de seis horas de viagem (boa parte delas com forte neblina) na direção do meu carro de São Paulo até ali, carregando mais dois amigos, e a minha fome que, a essa altura, era enorme. Não sei o nome do bar ou boteco, mas sei que o sanduíche era generoso. Eu via pela primeira vez aquela cidade, era jovem e, naquele momento, me sentia "poderosa". 

Gostaria de dar uma resposta mais sofisticada à pergunta, mas efetivamente essa é a refeição que nunca consegui esquecer.