quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"Sapore di sale, sapore di mare"

Outro dia lembrei dessa música, sucesso dos anos 1960. Veio à reboque de uma "argumentação" que eu fazia, contando sobre o prazer de tomar uma caipirinha à beira mar. Descrever uma sensação não é coisa fácil, mas enfim... eu tentava dizer do sabor de sal que, depois de um mergulho, permanece um tempo na boca, e da delícia que é sentir a bebida gelada, ácida e adocicada, se misturando a esse restinho de mar.

A lembrança não chegava isolada, é claro. Era um recorte de veraneios passados.

Quando eu era garota e adolescente, as aguardadas férias do verão se passavam muitas vezes nas praias gaúchas, em Capão da Canoa, Atlântida, Xangrilá. A diversão era uma constante. Eu costumava me jogar, corajosamente, no mar gelado (ou quem sabe ele não era tão frio assim) e aproveitava para ficar na rua até mais tarde (o que não acontecia na cidade). O cinema passava um filme diferente cada noite e era possível ver e rever todos o filmes do ano. O mar "abria o apetite" e a praia era cheia de ofertas e tentações: pasteis, sonhos, sorvetes, churros...





Durante alguns anos, participei de um ritual que meus pais e seus amigos inventaram: na volta da praia, antes do almoço, todos se reuniam para "aperitivar", quer dizer, provar alguns petiscos e tomar um drinque. Lembro que essa prática, que começou breve e despretensiosa, pouco a pouco foi ganhando uma dimensão maior. As preparações se tornaram um pouco mais elaboradas, o tempo do encontro foi se estendendo e, por fim, esse momento passou a se constituir no ponto "alto" do dia. Claro que eu ficava restrita às comidinhas, mas ainda assim...


Alguns anos mais tarde, meus veraneios se transferiram para a casa de meus tios em Xangrilá. E ali também essa fatia de tempo -- entre o banho de mar e o almoço -- tinha uma graça especial. Ali também se faziam petiscos e bebidinhas. E agora minha participação era integral. A lembrança prazerosa dos vestígios do mar na caipirinha deve vir daí. 

Toda essa história -- sapore di sale, sapore di mare -- a recriação nostálgica da tal sensação doce-salgado, veio junto com meu pedido de uma margarita num restaurante da cidade há poucos dias atrás. Conforme "expliquei", o sal colado às bordas da taça imitaria o gosto de mar, substituindo meu mergulho, e a mistura de cointreau e tequila... bem, daria um toque mexicano ou cubano à brasileiríssima  caipirinha. Qualquer justificativa parece válida nessas horas...






Nenhum comentário:

Postar um comentário