segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Moqueca 1.0

Preparar uma moqueca deve ser tarefa que se aprende desde criança em muitas regiões do Brasil. Na Bahia e no Espírito Santo chega a ser lugar comum. São Paulo e Minas também fazem moqueca cada estado do seu jeito. Mas, e aqui no sul? Gaúcho é artista das carnes e tal prato aparece pouco por aqui, em restaurantes especializados (muitos na praia) ou nas casas de fiéis descendentes do norte/nordeste.

Pois eu gosto demais de moqueca e ganhei, já há algum tempo, uma bela panela de ferro (importada de Minas) que estava "pedindo" para ser inaugurada. Resolvi então encarar o desafio do preparo.

Primeiro fui buscar receitas na internet. Comparando daqui e dali, cheguei a uma proposta que me agradava, combinando peixe e camarão, no site do Olivier. Foi essa que resolvi seguir, com algumas adaptações.

O passo seguinte, logicamente, era a compra dos ingredientes. A cultura gaúcha dos super-mercados merecia ser posta em xeque. (Por aqui tudo costuma ser resolvido na rede de "super", quer dizer, pretende-se adquirir tudo num só lugar). Eu estava disposta a fazer uma moqueca de respeito, então, nada de peixe congelado, camarão congelado, ervinhas desidratadas...O negócio era  me lançar ao mercado público para escolher um bom peixe.

Já fui muitas vezes ao mercado, mas talvez nunca tenha me detido com tanta atenção nas peixarias. Fiquei bem impressionada. Havia de tudo ali: camarões, pitus, mexilhões, peixes de água salgada e doce, polvos, mariscos, etc. Escolhi duas postas grandes de robalo (afinal era apenas um primeiro ensaio) e desisti dos camarões porque tinha em casa uma bela bandeja (de congelados!!).

Cebolas, tomates, pimentão amarelo, azeite de dendê, leite de côco, piimenta, tudo em cima, com exceção do coentro. Aí sim, a coisa se complicou! Andei de um lado para outro, mercado, super-mercado, mercadinho, e até floricultura, mas não encontrei coentro! De novo uma diferença do sul para outros estados do Brasil. Aqui se usa pouco ou se usa consideravelmente menos o coentro nos temperos. Lamentei, mas minha moqueca seria feita sem o coentro.

Segui os passos indicados, acrescentei pimentões amarelos, substitui o coentro por salsa e cebolinha, fiz um arroz branco para acompanhar e voilà minha moqueca 1.0. Resolvi batizar assim porque, necessariamente, farei novas versões, mais aprimoradas e também mais "potentes", já que fiquei meio tímida na pimenta. E, para as próximas versões, certamente vou providenciar o coentro (vou construir um canteirinho de ervas para garantir!)


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"Sapore di sale, sapore di mare"

Outro dia lembrei dessa música, sucesso dos anos 1960. Veio à reboque de uma "argumentação" que eu fazia, contando sobre o prazer de tomar uma caipirinha à beira mar. Descrever uma sensação não é coisa fácil, mas enfim... eu tentava dizer do sabor de sal que, depois de um mergulho, permanece um tempo na boca, e da delícia que é sentir a bebida gelada, ácida e adocicada, se misturando a esse restinho de mar.

A lembrança não chegava isolada, é claro. Era um recorte de veraneios passados.

Quando eu era garota e adolescente, as aguardadas férias do verão se passavam muitas vezes nas praias gaúchas, em Capão da Canoa, Atlântida, Xangrilá. A diversão era uma constante. Eu costumava me jogar, corajosamente, no mar gelado (ou quem sabe ele não era tão frio assim) e aproveitava para ficar na rua até mais tarde (o que não acontecia na cidade). O cinema passava um filme diferente cada noite e era possível ver e rever todos o filmes do ano. O mar "abria o apetite" e a praia era cheia de ofertas e tentações: pasteis, sonhos, sorvetes, churros...





Durante alguns anos, participei de um ritual que meus pais e seus amigos inventaram: na volta da praia, antes do almoço, todos se reuniam para "aperitivar", quer dizer, provar alguns petiscos e tomar um drinque. Lembro que essa prática, que começou breve e despretensiosa, pouco a pouco foi ganhando uma dimensão maior. As preparações se tornaram um pouco mais elaboradas, o tempo do encontro foi se estendendo e, por fim, esse momento passou a se constituir no ponto "alto" do dia. Claro que eu ficava restrita às comidinhas, mas ainda assim...


Alguns anos mais tarde, meus veraneios se transferiram para a casa de meus tios em Xangrilá. E ali também essa fatia de tempo -- entre o banho de mar e o almoço -- tinha uma graça especial. Ali também se faziam petiscos e bebidinhas. E agora minha participação era integral. A lembrança prazerosa dos vestígios do mar na caipirinha deve vir daí. 

Toda essa história -- sapore di sale, sapore di mare -- a recriação nostálgica da tal sensação doce-salgado, veio junto com meu pedido de uma margarita num restaurante da cidade há poucos dias atrás. Conforme "expliquei", o sal colado às bordas da taça imitaria o gosto de mar, substituindo meu mergulho, e a mistura de cointreau e tequila... bem, daria um toque mexicano ou cubano à brasileiríssima  caipirinha. Qualquer justificativa parece válida nessas horas...






quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Virando o ano

Porto Alegre deserta. Ou quase. Os que puderam escaparam para as praias. Foram para Santa ou para Punta (como as chamam, com intimidade, os habitués) ou escolheram o litoral gaúcho (menos charmoso, talvez, mas igualmente animado), ou se mandaram para o Rio para ver os fogos em Copacabana. Quem ficou na cidade corre aos supermercados na busca dos ingredientes para a ceia ou engrossa as filas das lotéricas na esperança da "Mega-sena da Virada".

Quando anoitece, o atestado da fuga urbana: nos prédios, são poucas as janelas iluminadas. As torres escuras espetam o céu mas, aqui ou ali, há festa, música, risos. 

A casa de uma amiga é uma dessas ilhas de claridade. Ali nos reunimos para esperar o novo ano. Na sacada já nos aguardam frutas secas, morangos e grandes caçambas de açúcar com pimenta rosa triturada. Mergulhamos os morangos no açúcar condimentado, bebericamos as primeiras taças de espumante e estamos quase "prontos" para começar o jantar.

Sobre a mesa uma grande salada verde. Da cozinha vem o bacalhau, em duas versões. Além do tradicional, desfiado com batatas no forno, ela nos oferece um supreendente bacalhau com feijão fradinho! Ele vem escondido sob uma camada de purê de batatas, mas ela não se nega a revelar o processo. Já não sei se registrei com correção todos os passos... o fato é que é um prato feito em camadas. Numa travessa refratária untada com azeite coloca-se inicialmente farinha de rosca e, em seguida, uma camada de feijão fradinho previamente cozido (al dente), depois vem a camada de bacalhau em lascas e, a seguir, uma camada de brócolis (crus); por último, o purê de batatas. A travessa vai ao forno e é isto!



Ao conjunto é acrescentada ainda a salada de maçãs, cogumelos e curry que eu tinha prometido levar (neste blog, post de abril). E, para arrematar com doçura, outra amiga se encarrega de um belo cheese-cake de amoras mais uma bandeja de negrinhos (brigadeiros) e branquinhos.


Comida e bebida comme il faut para uma noite de réveillon. E brindes, abraços, beijos e os votos usuais para 2013. Valeu!!!