segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em casa, cogumelos recheados

Fico escrevendo sobre comidas e viagens e isso talvez passe uma ideia de glamour que, efetivamente, não é o meu cotidiano. Será o cotidiano de alguém? Quem sabe esse não é um dos efeitos possíveis e recorrentes dos registros virtuais? Inversamente, me pergunto se não seria possível ver/produzir alguma graça (e glamour) no dia-a-dia se nossos sentidos estivessem mais "abertos".

Num dia desses, pensei no que fazer com os ingredientes que tinha à disposição em casa. Estava sozinha e o mais provável seria comer qualquer coisa que tivesse sobrado de refeições anteriores. Talvez complementar com uma salada ligeira, eventualmente preparar uma massinha ou uma omelete ou, quem sabe, descongelar uma porção de arroz e de feijão que costumo deixar de reserva no freezer para os momentos de preguiça.

Mas resolvi que o almoço desse dia poderia ser um pouquinho mais caprichado e que eu merecia mais cuidado (ainda que tal cuidado fosse auto-promovido). Havia no refrigerador alguns itens interessantes que poderiam ser bem combinados: uma caixa de cogumelos portobelo que dentro de alguns dias teria seu prazo de validade esgotado, algumas fatias de presunto cru bem fininhas de uma marca nova que eu havia apreciado e também um pedacinho de queijo de cabra delicioso. Seria simples, muito simples, fazer cogumelos recheados. Aqueci o forno enquanto fazia o preparo, lavando e picando os ingredientes. Por cima de alguns cogumelos coloquei salsinha para dar um toque mais bonito no visual. 


Poucos minutos depois estavam prontos. Foi só isso. Nada espetacular, nada extraordinário, mas que o meu almoço teve alguma graça lá isso teve.





sexta-feira, 7 de junho de 2013

Em Zermatt, a batata rosti

Eu nada sabia sobre o lugar. Para ser sincera, eu sabia pouco sobre a Suiça. Mas nessa viagem, para além da cosmopolita Genebra, tive chance de visitar cidadezinhas e lugarejos quase escondidos.

Zermatt foi um desses lugares. Uma estação de esqui em meio aos Alpes que tem como sua principal referência o Matterhorn, a montanha ícone da região com mais de 4.500 metros de altitude. (Não custa lembrar que, além de cenário de lendárias e dramáticas escaladas, o Matterhorn é também o símbolo do chocolate Toblerone). Mas voltando a Zermatt: esse é um povoado encantador de pouco mais de seis mil habitantes que, na temporada de inverno, tem sua população muitas vezes multiplicada. Uma rua principal -- com suas lojinhas, restaurantes, pousadas, uma praça e uma igreja -- cortada de pequenas ruelas. Nos céus, observamos com curiosidade helicópteros trazendo provisões, gêneros de toda espécie, provavelmente a forma mais viável de abastecer o lugar. Aqui ou ali vemos alguns montanhistas com suas bengalas ou bastões e uns poucos jovens carregando esquis. Seriam, quem sabe, os últimos remanescentes da temporada que findava; afinal estávamos em maio e a primavera já começava, embora a paisagem não parecesse confirmar o calendário.

Alguns companheiros de viagem pegam o funicular que os levará até uma montanha próxima de onde devem observar o Matterhorn mais de perto. Nós decidimos ficar ao pé do monte, explorando o vilarejo. E é assim que, ao final da rua, depois da praça e da igreja, encontramos o restaurante onde iríamos provar o prato típico da região: batata rosti com salsicha. (As nuvens atrapalham o olhar mas lá fundo esta a famosa montanha)


Mas a comida acabaria por não se constituir na única atração do almoço. Antes há que prestar atenção ao lugar: um restaurante modesto, de mobiliário simples e preços acessíveis. Aparentemente nada demais não fosse pelo fato de mostrar, no jogo americano que cobria a mesa, a data de sua inauguração: 1600. Sim, estávamos no mais antigo restaurante da região.



Ensaiamos o pedido, aproveitando que uma das parceiras da mesa fala alemão. Mas a garçonete já se antecipa, sorrindo e respondendo em português. Não há motivo para espanto. Como alguém nos prevenira, embora a língua oficial de Zermatt seja o alemão (pois a comuna faz parte do cantão germânico da Suiça), cerca de 50% de sua população fala o português. Beleza! Tudo parece mais fácil agora.

Quanto ao prato propriamente dito, consiste de batata (crua ou cozida) ralada e frita na manteiga ou  outro tipo de gordura e "prensada" na frigideira de modo a formar uma espécie de panquena, dourada e crocante. À batata ralada podem ser adicionados cebola, bacon, cogumelos, enfim vários ingredientes. O resultado é mesmo saboroso (tanto que comprei um livreto para tentar replicar por aqui as receitas). A salsicha é quase obrigatória num cantão alemão e pode ser de uma infinidade de tipos. Enfim, é uma comida forte, certamente boa para o inverno pois aquece o corpo e a alma dos caminhantes. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Em Strasbourg, a "tarte flambée"

Estávamos nos aproximando de Strasbourg para iniciar a esperada viagem pelo rio Reno. Situada na região da Alsácia, às margens do rio, a cidade francesa faz fronteira com a Alemanha (na verdade a cidade "continua" do lado alemão com o nome de Kehl). Logo adiante está a Suiça. Portanto uma região fronteiriça, com uma história de disputas e rastros de diferentes culturas. Saimos em busca da famosa catedral que parece surgir "de repente", belíssima e de certo modo surpreendente, por estar quase "prensada" num final de rua, cercada de velhos prédios por todos os lados. Teríamos ali algum tempo livre e o guia nos sugerira experimentar o prato típico da região: a tarte flambée ou flamm'kueche.

Ao longo das ruas estreitas, os restaurantes, ou melhor, os pequenos bistrôs se enfileiram com seus guarda-sóis abertos e cartazes anunciando a especialidade. Conseguimos lugar num deles, muito próximo da catedral o que nos permite comer enquanto apreciamos a paisagem da igreja e o mundo de gente que circula, fotografa, compra souvenirs e exclama em várias línguas.

Os garçons entregam os pedidos rapidamente, afinal o lugar é turístico e o negócio é faturar. Peço um cálice de vinho e a tarte. Quando o prato chega fico um tanto desapontada, pois o que recebo é, segundo me parece, uma pizza fininha, com cogumelos e presunto. Crocante e gostosa, é verdade, mas tão fininha que tenho certeza que não vai saciar meu apetite. De qualquer modo me entrego com prazer ao almoço. 

Ao encontrar os companheiros de viagem, percebo que outros ficaram, tal como eu, desconfiados sobre a eventual diferença entre a tarte e uma pizza paulistana bem caprichada. Efetivamente, constato que a massa e a preparação no forno (geralmente à lenha) é semelhante, no entanto, enquanto a pizza é coberta com molho de tomate, a tarte flambée (que não é flambada, tal como o nome sugere) recebe uma camada de creme de leite fresco ou queijo branco. Depois as coberturas podem variar, como se vê no quadro negro: 


E, para agradar turistas de todos os costados, ainda há barraquinhas que apresentam tudo junto (tartes, pizzas, hot dogs, pretzels, crepes, etc. etc.)...