Embora viva numa região que exalta seus campos, não posso me considerar particularmente encantada por essas paisagens. Por certo tenho o olhar atraído pelos arrozais e vinhedos do Rio Grande, sou capaz de apreciar a beleza da terra cultivada e das moradas que, aqui ou ali, pontuam o cenário, mas não costumo me demorar nessa contemplação. Olho os campos através da janela, espio um tantinho a vida rural para, logo depois, desviar a vista. Quase de imediato me pego pensando em como seria morar por ali... e um sentimento de isolamento perturba a percepção de sossego que talvez se revele mais forte a outros observadores.
Mas às vezes a paisagem se impõe por mais tempo. Seja por sua extensão, pela estranheza de uma terra desconhecida ou mesmo por estar "presa" a um trem. Foi assim que me vi, há poucas semanas atrás, instada a admirar campos estrangeiros, passando pela Alemanha, Suiça e Holanda. Não digo que são mais bonitos que os daqui. Simplesmente me dispus a olhá-los por mais tempo.
O primeiro impacto foi a cor. Constato -- sem qualquer originalidade -- o óbvio: a infinidade de tons que se exibem. A primavera estava começando naquela região e, embora o frio fosse ainda muito intenso, tudo brotava. Se nos campos árvores, arbustos, plantações e gramados tinham tonalidades inimagináveis, nas pequenas cidades e vilarejos as flores se mostravam absolutamente deslumbrantes. Arranjadas em jardins cuidadosíssimos, era impossível deixar de fotografa-las.
Mas devo voltar aos campos. Era deles que eu pretendia falar. Em meio às múltiplas tonaliidades de verde, extensos terrenos de um amarelo compacto criavam uma luminosidade inédita. Eram campos de canola, me explicaram. E eles se repetiam magníficos, ao longo das estradas.
Adiante, lonas pretas protegiam uma preciosidade da gastronomia local: os aspargos. Aprendo sobre a importância de consumi-los imediatamente após a colheita, no dia seguinte, conforme um guia expert nos aconselha. E, além de prová-los de variadas formas (em cremes e acompanhamentos, com peixes e carnes), me encanto de vê-los in natura, nas barracas das feirinhas que se espalham pelas ruas estreitas das pequenas cidades.
A viagem continua. Há mais lugares, pessoas e coisas para lembrar...